Pelo título, seria à cabeça, o meu tipo de filme. Adoro enredos sobre vingança. Simplesmente derreto-me todo face a essa possibilidade. Law Abiding Citizen, Oldboi, Lady Vengeance, Sleepers, O Conde de Monte Cristo… já entenderam a ideia! Este filme é muito mais que isso. Fui completamente revolto na expectativa do que achava que ia ver para ficar completamente rendido ao que vi. B. J. Novak está de parabéns!
Estreia-se como realizador de uma longa-metragem de muito fáceis 107 minutos de assistir.
É também o escritor de uma história que, tal como a sua personagem no filme, é uma autêntica viagem retratista de um entendido fenótipo da sociedade americana como pano de fundo e com uma trama de suspense a encarrilar por de entre escarpas de humor negro e seco e lezírias aveludadas e aconchegantes de ternura, alma e coração.
Vengeance começa com um tom irritantemente nova iorquino, evocativo de comédias dramáticas românticas a la Manhattan de Woody Allen mas rapidamente e antes que eu me remeta a profundamente desrespeitado pela possibilidade de a minha expectativa não se ver cumprida pelo título, vamos para o Texas. Não o Texas partidariamente azul de Austin ou vermelho de Dallas ou até bordô de Houston. Vamos para uma cidadezinha onde os valores texanos-americanos são fortes, pungentes, porém humanos, reais e consequentes em vez de binários ou divisivos. Vamos, com B. J. “Ben Manalowitz” Novak, ter com pessoas. Mais ou menos virtuosas, com qualidades ou defeitos, novas ou idosas, de conservadorismo hilariantemente ignorante ou vanguarda do calão e doutrinas normativas sociais, todas com estas características encerradas nelas, ao mesmo tempo, em diferentes alturas do dia.
Falar mais sobre o enredo é entregar o que quer que seja do enredo. Fico-me pelo solene convite forte de que assistam.
A filmografia nota-se tanto com boas influências, quer nos planos mais tradicionais de estabelecimento de tons, ritmos, exposição do meio envolvente ou meramente transitivos de paisagem, como com não menos boas influências do cinema moderno de corte rápido, a acompanhar o troca-troca de diálogo entre personagens. Nada a assinalar de transcendente, porém, dada a estreia, nada a assinalar de atroz, o que demonstra muita vontade em fazer a coisa bem, mesmo com recurso ao básico, fundamental, comprovado.
A banda-sonora acompanha bem as distintas notas do filme, com enfoque à música country, mas nunca em sobre-uso ou dispositivo sensorial de momentos, ou seja, não é linear que se tenha usado uma balada para estabelecer melancolia ou introspecção, bem como não fora linear o uso de músicas de rodeo para definir agitação, agudez de ritmo. Tal como na filmografia, o básico, fundamental funcionou.
Como personagem, Bem Manalowitz é sólido, com arco consistente que visa aprender algo apenas no final do filme, ao estilo protagonista não-participante. O seu co-protagonista mais directo foi o despropositadamente engraçado Boyd Holbrook no papel de Ty Shaw.
Quem rouba absolutamente o filme é Ashton Kutcher. O tom com que claramente foi instruído para explorar Quentin Sellers deixou-me boquiaberto por das duas uma: ser a coisa mais hilariante de todo o filme por tão desconexo e completamente fora do tom de todo o filme OU por ser a personagem que serviu de lasso para repuxar o espectador de volta à trama em mãos em vez de o deixar disperso na muito densa amálgama retratista de ternura, empatia e pedaço-de-vida daquela malta daquele povoado daquele Texas daquele país que tanto nos diz mas cada vez mais teima em repelir do resto do mundo, ao mesmo tempo que ele também retrata aquele seu mundo, como o contextualiza com o todo e quais as suas motivações perante a sua realidade. Brilhante!
Ver um filme chamado de Vengeance onde me ri sem saber que o iria fazer, me enterneci pela simplicidade daquelas pessoas representadas e ainda assim fiquei interessado na trama de crime que faz com que queira ver tudo até ao fim vai de perfeito encontro a uma fala, das várias possíveis, que tenho de destacar: “everything means everything, so something means anything”.