Ok, antes de ser atacado por todos os que estão a distribuir publicidade negativa acerca deste filme, deixem-me defender. Prometo tentar ser rápido e preciso nas minhas palavras, para poder dizer tudo o que tenho por dizer antes de ser atingido por uma pedra.
“65” conta a história de um viajante espacial, vindo de um planeta distante, que cai no planeta Terra há 65 milhões de anos atrás. O comandante da nave alienígena, Mills (Adam Driver), e Koa (Ariana Greenblatt), são os únicos sobreviventes. À medida que os dois desconhecidos vão criando laços, eles têm de sobreviver num planeta habitado por dinossauros. E como se não bastassem as criaturas pré-históricas, eles ainda têm de escapar da Terra antes da colisão do asteroide que extinguiu os dinossauros.
A premissa é boa, e foi essa a única razão que me levou ao cinema para ver este filme. Ok, única não. Talvez a mais forte? Não. Não me parece que isso seja um motivo mais válido do que prometer a uma criança de 11 anos que íamos ver um filme de dinossauros. Mas, enfim, foi um dos motivos. Não vi trailer, nem li nada. Queria ir assim, desprevenido. E foi provavelmente a minha melhor decisão.
Ver uma história original com apenas 90 minutos, nos dias de hoje, é como respirar ar fresco depois de muito tempo fechado numa cave… E aqueles que dizem que o filme é inspirado por uma quantidade infindável de outros filmes, não estão completamente errados. O filme tem várias referências e inspirações óbvias, mas isso não acontece com tantos outros hoje em dia? Os fãs da Marvel não vão, cerca de três vezes por ano, ao cinema ver um filme “quase” igual aos outros todos? Eu acho que é impossível não comparar com outros filmes. Mas vai ser cada vez mais assim. Com todos no geral.
Embora as comparações mais óbvias sejam com “The Last of Us” e “Jurassic World”. No que toca ao primeiro, acho uma comparação ridícula. Filmes, séries, livros e videojogos que usam um homem mais velho com poucos ou nenhuns traços paternos e uma criança, e vão cimentando a sua relação, nem sequer era novidade quando lançaram o videojogo em 2013, quanto mais agora… Mas é mais fácil criticar quando não se trata de “Logan”. Quanto ao segundo, acho também uma comparação ridícula. Não por terem conceitos de exploração do mesmo tema bastante diferentes, mas por este ainda estar a anos de luz de Jurassic Park, mesmo fazendo de tudo para se afastar da sua sombra. E quando digo tudo, é tudo mesmo. Inclusive inventaram dinossauros que nunca ninguém viu ou ouvir falar só para se afastarem da hipótese de ser visto como repetitivo, ou de terem um T-Rex como inimigo final. Mas, com muita pena minha, essa comparação nunca será viável por infindáveis razões. Desde dinossauros menos realistas e caracterizados como aliens, passando pela terrível decisão de matar todos na queda da nave, não deixando nem um ou dois sobreviventes “descartáveis” para serem devorados pelas criaturas pré-históricas, dando uma noção da sua perigosidade. Torna-se óbvio que faltaram mais humanos e mais dinossauros. E terminando obviamente no guião que não soube aproveitar todo o sumo que tinha, desperdiçando grande parte dele…
Afinal o ponto mais forte, a nível emocional, do filme é completamente desperdiçado. Os roteiristas tentaram tirar um penso rápido, mas esqueceram-se que a ferida está no meio. E quando continuarem a tirar o penso, não vamos ter nada mais do que pele intacta… Na minha opinião, ter deixado a ferida para o fim seria o indicado. Isso e não darem detalhes tão “spoiler alert”. A simples motivação de um pai que quer voltar para casa, para a filha que está chateada com ele por ter ido embora, seria perfeito para chegarmos ao clímax da história nos momentos finais. Infelizmente, os roteiristas não tiveram a mesma visão que eu e simplesmente ofereceram momentos dramáticos em pontos desnecessários do filme.
Tirando isso, tenho de elogiar a história e os jump scares bastante eficazes! Bem como o desenvolvimento da relação e a química entre os dois personagens principais. Como cinéfilo, não há como não reparar no dedo de Sam Raimi. Como pai, não há como não gostar deste filme. Como atleta, não há como não perguntar “como é que demoraram dois dias a percorrer 15km?”.