Foi impossível não me envolver com 7 Prisioneiros. Digo isso pois a trama é cativante e nos conduz por uma narrativa que distribui bem seus conflitos; também porque, apesar da falta de naturalidade dos atores e de certas linhas de texto, o elenco convence com a dose certa de intensidade e, apesar de viver uma situação extremamente mais favorável que a das personagens do longa, também me senti refém.
Mateus (Cristian Malheiros) e seus colegas de trabalho são forçados a trabalhar para pagar uma dívida absurda imposta por seu chefe, Luca (Rodrigo Santoro), que os mantém em cárcere no seu ferro-velho. Sob ameaças à própria vida e à vida de seus familiares, eles não veem outra alternativa, senão seguir trabalhando, na esperança de um dia pagarem o que devem e retomarem sua liberdade.
O longa realizado por Alexandre Moratto não é perfeito. Apesar de retratar uma realidade dura de um sistema capitalista, mostra falta de naturalidade em certos aspectos, como algumas linhas de diálogo e suas atuações. Nem mesmo o grande astro da obra, Rodrigo Santoro, escapa desse problema. Apesar de fazer um trabalho decente, Santoro entrega uma atuação encharcada de uma caricatura do que deveria ser uma personagem seca e realista.
A fotografia do filme é ótima: demonstra sobriedade e captura bem os momentos de tensão e violência, sem glamourizar esses elementos com cenas de plasticidade e beleza desnecessária. Outro trabalho exemplar da obra é sua banda sonora, que, ao apresentar-se densa e envolvente, forma uma unidade satisfatória de imagem e som, que nos ajuda a acompanhar sua história sem que o interesse seja perdido. Mas, o motivo de minha conexão com o filme vai além de seus elementos técnicos e narrativos.
7 Prisioneiros me envolveu, pois não só me fez sentir empatia por suas personagens, como também me fez sentir refém. Não vivo uma realidade tão dura quanto Mateus e seus colegas, nem tenho minha liberdade de ir e vir negada, mas faço parte de um sistema econômico violento. Violento pois desvaloriza meu trabalho, exigindo do meu corpo e mente esforço desproporcional ao prêmio de R$30 diários; violento pois me explora e me humilha, ao tentar me convencer que devo ser grato ao serviço que meus empregadores me proporcionam; violento pois mantém a fome e o desemprego, e sabe que o desespero dos marginalizados faz do mísero uma opção viável; e violento pois precisa que alguém perca, para que uma minoria saia ganhando. O sistema não é disfuncional, muito pelo contrário: ele só não funciona pra todo mundo.