A Netflix tem-nos habituado a ser um pouco “hit-and-miss” nas suas produções de terror originais, mas este mês de Julho de 2021 ficará para a história como um dos melhores meses do serviço de streaming no género. Enquanto a trilogia Fear Street continua a fazer sucesso com a crítica e com o público, chega-nos, agora, este A Classic Horror Story, uma produção italiana que nos diz bem mais do que aparenta.
A premissa do filme faz lembrar a de vários filmes do cinema de terror – Wrong Turn é a referência mais óbvia para o começo –, mostrando-nos cinco pessoas que não se conhecem, partilhando um carro e tendo um estranho acidente. Ao terem esse acidente, dão-se conta de que a estrada desapareceu, que estão no meio do nada e não demoram muito a perceber que não estão sozinhos e que os locais não são muito amistosos para eles. Não quero dar mais detalhes sobre a trama porque este filme precisa de ser vivenciado e visto, na sua totalidade, para se entender tudo o que ele pretende dizer. E até lá chegarmos nem sempre o caminho é perfeito.
Algo que salta logo à vista, de forma bastante positiva, são os altíssimos valores de produção. Na parte visual, o filme deslumbra, com excelentes planos e uma fotografia que se vê que foi tratada e trabalhada com especial cuidado. A componente sonora não lhe fica nada atrás, com uma banda sonora bastante eficaz que ajuda a criar a atmosfera necessária para o tom pretendido. As atuações também são um dos pontos fortes desta produção, especialmente Matilda Anna Lutz no papel de Elisa – excelente em todo o filme, mas elevando ainda mais a prestação no 3º ato – e Francesco Russo no papel de Fabrizio, o condutor inicial que é um enorme amante de cinema e que também é mais chato do que uma forte cólica a meio da madrugada. Os dois brilham acima de todos os outros, embora o elenco secundário também cumpra no que lhes é pedido.
Preparem-se também para várias referências ao cinema de terror (e não só – até Titanic e Ninja Turtles são referenciados!), que incluem Friday the 13th, Midsommar, Cabin in the Woods, The Wicker Man ou Texas Chainsaw Massacre, só para mencionar alguns! A certa altura, uma personagem comenta “o teu filme não presta, é um rip-off de muitos outros”, o que para muitos (os que não engraçarem com o filme) será visto como irónico e um resumo do que este filme é, mas, na verdade, esta obra de Roberto De Feo e Paolo Strippoli vai bem além de apenas colar referências, apresentando mesmo um forte comentário social à sociedade atual, em particular, a italiana.
A esta hora estarão, então, a perguntar-se porque é que referi que “nem sempre o caminho é perfeito”. Pois bem, o filme começa bastante bem e o terceito ato é brilhante. No entanto, é no meio, no seu segundo ato, que é requerida uma grande paciência por parte do espectador, parecendo estar a tomar caminhos bastante previsíveis, que podem ser uma tentação para que olhemos para o telemóvel ao nosso lado e percamos definitivamente o foco do que estamos a ver. Não o façam. Acreditem, vai valer a pena! No entanto, sendo essa uma parte significativa do filme, não posso deixar de me sentir um pouco frustrado por não termos um “meio” mais aperfeiçoado, o que poderia ter ajudado a que este fosse um verdadeiro clássico do terror. O marketing ao filme também não foi o mais correto. Vendido como um filme bastante assustador e sangrento, este não é uma coisa nem outra, funcionando muito melhor como como um um suspense/terror misterioso, por várias vezes cómico na sua abordagem irónica, acompanhado por poderosas imagens.
É um filme que tem um elevado risco de ser odiado por muitos pela forma como subverte as nossas expectativas. É também um filme feito por quem, claramente, ama o cinema, repleto de excelentes valores de produção, carismáticas atuações e com uma forte crítica social. Requer paciência e não é tão sangrento e assustador como foi vendido, mas o seu terceito ato faz toda a viagem valer a pena. Preparem-se ainda para uma cena pós-conclusão que vos deixará com um enorme sorriso na cara!