Morgan Freeman e Florence Pugh fazem valer A Good Person

A Good Person é um filme que aborda questões pesadas como luto, superação e perdão, mas nem sempre o faz com a sensibilidade que tais assuntos pedem. Todavia, apresenta nos papéis de maior destaque os excelentes Florence Pugh e Morgan Freeman, que vivem suas personagens com muito vigor, e ajudam o filme a se manter bem até o final.

Allison (Florence Pugh) se envolveu em um acidente que resultou em fatalidades. Tal acidente afetou significamente a vida de Daniel (Morgan Freeman), pai de uma das vítimas do acidente. Física e mentalmente ferida, Allison se tornou dependente química. Responsável por sua traumatizada neta órfã, Daniel tenta conviver com os erros do seu passado e ser alguém melhor. Unidos pelo destino, Allison e Daniel se vêem passando juntos por uma jornada emocional que exigirá muito de ambos.

A Good Person tem uma forte premissa, que é bem trabalhada na maior parte do tempo. Todo o arco envolvendo a personagem de Daniel, por exemplo, é muito bem construído, carregado de um tom sóbrio e delicado, que sabe ser leve e até descontraído quando necessário. Porém, quando falamos de Allison, nem tudo funciona tão bem. Allison está sofrendo, e percebemos isso. O texto é muito claro e Pugh convincente, o que torna fácil perceber a dor da personagem. O problema é que até que Allison cruze o caminho de Daniel, o filme parece não saber lidar bem com toda sua intensidade. O texto demonstra certa imaturidade, além de pecar ao tentar criar humor com a situação da protagonista. É claro que se pode fazer rir com situações complicadas como as abordadas aqui, mas o que tentam fazer nos primeiros momentos do filme simplesmente não funciona muito bem com o tom sugerido. A Good Person passa a impressão inicial de se tratar de um filme superficial.

Felizmente, isso é subvertido após o encontro de Allison com Daniel. A partir daí, o texto encontra na relação entre os dois ótimas oportunidades de nos fazer envolver com suas personagens. Allison e Daniel têm muita dor armazenada, e muito o que desabafar um com o outro, e isso garante ao argumento a possibilidade de verbalizar suas complexidades com naturalidade e sinceridade.

O curioso é perceber como a fragilidade do arco de Allison se alinha com a fragilidade da própria personagem. Allison está completamente quebrada e perdida, até cruzar caminho de Daniel, que tenta ajudá-la a se encontrar novamente, assim como a si mesmo. O mesmo acontece com o filme em si, que mostra-se superficial até que os arcos narrativos se alinhem e se tornem mais fortes juntos. Sei que esta leitura pode trazer algum valor ao problemático início narrativo da história de Allison, por isso decidi citá-la neste texto, mas, ainda assim, considero falha a execução do filme. 

Mas o que não posso considerar falho, de maneira alguma, é a entrega de Pugh e Freeman para com suas personagens. Ambos atores brilham muito em seus papéis.

Nada aqui é novidade para Morgan Freeman. Daniel é o clássico personagem sábio e centrado que o experiente ator adora interpretar. Até mesmo a clássica narração inicial encontramos por aqui. Freeman está muito confortável em seu papel, este arquétipo que já domina há tanto tempo, e com tanta maestria.

Florence Pugh sofre muito como Allison, e sua prestação é tão intensa e verdadeira, que quase podemos compartilhar de sua dor. Pugh é uma tremenda atriz, e seu alcance dramático, assim como sua expressividade facial e corporal, são qualidades notáveis. Mas o que mais me impressionou em relação a ela em A Good Person é o talento da atriz para a música. Pugh canta duas das canções originais apresentadas pela ótima banda sonora do filme. E não fica por aí, pois ela não só entrega sua voz às canções, como também compôs ambas músicas! Muito além de ser uma atriz excelente, Florence Pugh é uma artista completa.

E é através da relação entre Daniel e Allison que A Good Person nos conquista. Há muita química entre os atores em cena, que demonstram carisma e muita sintonia enquanto estão juntos. Na companhia um do outro, ambos deixam de ser apenas casos dignos de empatia ou pena, e passam a ser válidos e necessários.

A Good Person é um filme que nem sempre trata de seus assuntos como deveria, mas funciona bem por boa parte do tempo e consegue, ao final de contas, ser profundo o bastante para fazer jus a seriedade dos tópicos que aborda. Impressiona, inclusive, ao finalizar seus conflitos com muita sobriedade e maturidade. Um belo contraponto em relação à sua introdução, que desilude e promete um filme vazio e sem alma. Pugh e Freeman estão ótimos, e com certeza fazem valer a pena a experiência de A Good Person com suas excelentes atuações.


A Good Person
A Good Person

ANO: 2023

PAÍS: EUA, Canadá

DURAÇÃO: 2h 8min

REALIZAÇÃO: Zach Braff

ELENCO: Florence Pugh, Morgan Freeman, Celeste O'Connor

+INFO: IMDb

A Good Person

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