Kogonada é o realizador e co-escritor desta coisa. Devia desconfiar que um realizador com apenas um nome ao estilo Madonna me fosse atirar um cagalhão lindíssimo e perfumado de flor-de-cerejeira. Uma vez terminada a mão cheia de nada de piedosa hora e 36 minutos de duração, mais zangado estou por ter sido tão estilosamente desrespeitado.
O elenco trabalha com tão pouco embrulhado em diferentes pacotes do que poderia ser algo, que nem tem piada.
Esta bola de escaravelho egípcio começa para mim com o dó que tenho neste elenco de talento e beleza (Jodie Turner-Smith, minha rainha núbia linda de sotaque saxão, Colin Farrell meu azeiteiro irlandês bangão sem esforço e à prova de álcool e sextapes péssimas) e as presenças irritantemente esquecíveis presenças da garota Malea Emma Tjandrawidjajajajajajajajajajajaja e do Justin H. Min, sujeito sobre o qual pensava eu centrar-se uma parte substancial do filme, mas já lá vamos.
Colin Farrell tem tanto com que se preocupar em credibilizar narrativamente na sua interpretação que, tal como a sua personagem, fica perdido na maionese com ervas aromáticas. Jodie Turner-Smith é a co-protagonista que desafia Colin nas suas convicções e atitudes no apontar de dedo moral, parental e existencial, mas que nunca procura a sua contrição até à sua epifania inexplorada no terceiro acto. Malea Emma Apelido Longo Demais Para Ser Levado A Sério é o aparente fio condutor que nunca permite relaxamento absoluto do enredo, e até tem ramos seus com enorme potencial de exploração, mas… Nada disso… Madonna Kogonada recusa-se a estar focado no que abriu, qual asperger fingido para agraciamento popular.
O enredo tem tanto potencial que dói de tão superficial exploração. Perde-se tempo num filme curto a falar de chá, a dançar numa espécie de reality show, a falhar no empreendedorismo de uma casa de ervas fervíveis, a correr saca e meca para reparar um robô recauchutado.
Tocou-se em controlo de livre-arbítrio e espionagem empresarial. Tocou-se em multiculturalidade familiar e os seus obstáculos. Tocou-se na herança de uma família que não se teve e o vazio por preencher de tais origens. Tocou-se em como se aprende a amar quando não se teve esse propósito programado.
Mas foi só toque. Foi só isso. Uma pitada.
Há uma corrida contra o tempo que pretende reconquistar a atenção do espectador. Quando é conseguida, mostram-se autênticas fotografias em movimento, efeitos especiais subtis e escolhas de planos de tirar o fôlego e essa atenção é amassada e deitada ao lixo, como uma tira de papel usada numa perfumaria para bisnagar gulosamente o perfume mais caro que se sabe que não iremos comprar, na tentativa de nos ter apanhado o pulso ou pescoço catingados porque estamos apressados para a terceira entrevista de emprego dessa tarde.
Até essa caracterização do mundo é apenas lindíssima porém superficial. Pecadoramente superficial. Pesarosamente superficial. Revoltantemente superficial.
Mas entendo Kogonada. Toda a sua carreira é repleta de homenagens e menções a outros enormes da realização. Kogonada é um estudante de moda que baseia a sua costura nos grandes. Nada de mal. Agora criar um objecto seu de expressão artística onde o que foi filmado prevalece sobre o que se conta com o que foi filmado é uma bela cagada, oh Kogonada.