Aftermath será rapidamente esquecido

Aftermath – de 2021, não confundir com todos os outros antes! – estreou há poucos dias na Netflix e tem uma receita simples: não quer ser um filme de óscares, não quer ser um filme de premiações ou de grandes vénias por parte da imprensa. Pretende ser um thriller puro e duro, como aqueles que tanto prazer nos davam nas décadas passadas, pondo-nos a tentar adivinhar o que ele tinha guardo para nós nos momentos finais. E para isso até trouxe um bom elenco, com Shawn Ashmore – que será sempre o Iceman dos X-Men – e Ashley Greene – mais conhecida pela sua participação na saga Twilight – à cabeça.

A história mostra-nos um casal em crise, que se muda para uma nova casa, de forma a tentar dar uma segunda chance ao seu relacionamento. Essa casa – que usualmente, não estaria disponível para os seus bolsos – ficou disponível devido à ocorrência de um macabro crime, pelo que o casal conseguiu comprá-la a um preço bastante apetecível. E, pronto, como não poderia deixar de ser, estranhos sons começam a ser escutados, estranhos acontecimentos presenciados e ao espetador são deixadas algumas pistas para que procure atar as pontas soltas.

Algo de novo aqui? Não. E é também aí que começam os problema deste filme. Eu não sou daquelas pessoas que acha que todos os filmes devem ser bastante inovadores para resultarem. No entanto, se me vão dar algo já visto, espero que façam com uma competência acima da média, com atenção ao detalhe e acrescentado uma visão própria. Este Aftermath raramente o faz. É um filme que segue uma fórmula bastante vista e revista e não procura inovar ou fazer excepcionalmente bem. Percebemos quando os jump scares estão para vir, percebemos onde nos quer levar e, mesmo quando nos tenta enganar, percebemos que nos tenta enganar (como numa fraca cena onde vemos uma personagem a espreitar atrás de uma porta e a agir estranhamente).

Tecnicamente, também não é um filme que faço algo do outro mundo. Pelo contrário. A edição é fraca e as suas constantes transições com o ecrã a esvanecer para o escuro podem resultar, por vezes, mas não sempre! Essa técnica utilizada dezenas de vezes faz lembrar o cinema de outros tempos, um cinema que evoluiu nas suas técnicas de edição e de mudança de cena. A banda sonora pouco se dá por ela e a realização – com uma ou outra rara excepção – é banal, utilizando até algumas técnicas bem questionáveis.

Ainda assim, faz coisas bem. As atuações – principalmente do casal principal – são boas e credíveis (tirando a do tal ator que aparece a espreitar atrás da porta!). Há interessantes momentos de tensão entre o casal, em que a dúvida se instala de parte a parte e onde as expressões corporais falam por si. O filme também aborda – embora de uma forma que passará despercebida a muitos – a prolemática das mulheres serem, facilmente, questionadas sobre os seus depoimentos, questionando a veracidade do que declaram.

O próprio mistério em redor do que aconteceu e do que está a acontecer é interessante e deixa-nos na dúvida em vários momentos. É, aliás, um ponto forte do filme, pois faz-nos aguentar as suas quase duas horas de duração, tendo em conta que o seu plot não tem sumo para muito mais do que 90 minutos. Mas conseguiu-me prender nesse sentido e ainda conseguiu fazê-lo com um final que parece um pouco apressado, o que é, verdadeiramente, um mistério para um filme que é, claramente, demasiado longo.

Dito isto, eu não considero este Aftermath um filme ofensivamente mau, daqueles que dão vontade de não ver mais filmes por uns tempos. Numa época em que os bons thrillers escasseiam, o elenco e o mistério até dão para passar o tempo, enquanto se tenta desvendar a trama. No entanto, o que faz não é o suficiente. É um filme demasiado longo, preguiçoso e que parece feito diretamente para a televisão. Segue uma estrutura previsível e será rapidamente esquecido por todos.


Aftermath
Aftermath

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 114 minutos

REALIZAÇÃO: Peter Winther

ELENCO: Ashley Greene; Shawn Ashmore; Sharif Atkins

+INFO: IMDb

Aftermath

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