“A Jazzman’s Blues” é igual ao vinho do Porto…

“A Jazzman’s Blues” ou “Os Blues de um Homem do Jazz” em tradução livre para português. Como o nome indica, este filme conta a história de um cantor de jazz. O que muitas pessoas não sabem é que os blues e o jazz são estilos com origens e ritmos bem idênticos. A principal diferença é que os blues são cantados de forma mais calma e melodiosa, soando mais triste. E a história e as músicas do protagonista são isso mesmo: Tristes. Mas no bom sentido, calma… E já que começámos por falar do nome do filme, deixem-me dizer que neste caso em particular prefiro mil vezes o nome do filme na Netflix Portugal: “A Triste Balada do Homem do Jazz”.

Se o filme me chamou a atenção pelo nome? Não. Pelo trailer? Também não. Pelo resumo? Muito menos. Afinal não sou grande fã de musicais… Mas devo dizer-vos que me surpreendeu bastante. “A Jazzman’s Blues” transborda melodrama. Mas o melhor é mesmo a sensação de beber um bom whisky velho (Ou um vinho do Porto, para os apreciadores de vinho, que é mesmo a melhor forma de classificar este filme: Quanto mais velho, melhor). Para quem não percebeu a dica, este filme foi o primeiro guião escrito pelo realizador Tyler Perry, há 27 anos! Parece que ele, por alguma razão, decidiu deixá-lo na gaveta. E, felizmente para nós, o guião envelheceu demasiado bem.

O filme, para além de um óptimo figurino, e de uma boa fotografia, apresenta momentos musicais que nunca nos enjoam. E, acreditem, vindo da boca de uma pessoa que odeia musicais, isto é um grande elogio. Mas a verdade é que os momentos musicais não são assim tantos, e acabam por passar rápido. Para além disso apresenta questões que na altura eram tão duras e comuns (mais ainda que hoje!) como migração e racismo. E ainda tem um trunfo excelente nas mangas: uma história, não muito desenvolvida, mas com direito a um grande diálogo, de um judeu sobrevivente do holocausto.

O filme começa com um grande spoiler. Em 1987, uma série de cartas antigas são entregues como prova de um assassinato ocorrido 40 anos antes. A história regressa então a 1937, quando Bayou (Joshua Boone), no fim da sua adolescência, proveniente de uma família de músicos, conhece a linda latona Leanne (Solea Pfieffer). E quanto mais vemos, mais fácil é adivinhar qual será o desfecho.  Ele é um rapaz delicado, com uma mãe durona (Amirah Vann), um pai que o despreza (E. Roger Mitchell), e um irmão que o inveja (Austin Scott).

E tudo neste filme me faz sentir. Tudo. E quando um filme, ou série, desperta em nós sentimentos, sejam eles quais forem, é porque concluíram a sua missão com sucesso. Não me lembro de sentir tanta raiva desde que vi “Maid”, uma das melhores séries de sempre. Senti raiva do pai de Bayou; senti raiva do avô de Leanne: senti ainda mais raiva da mãe hipócrita de Leanne e a sua obsessão com dinheiro, e em esconder o seu tom da sua pele. Mas senti ainda mais raiva do silêncio de Leanne. Quando ela devia ter gritado ao mundo inteiro que não era branca. Que não amava aquele porco que a sua mãe tinha sonhado para seu marido. Faltou-lhe voz e atitude. Mas os tempos eram outros. E hoje em dia ainda há tantas assim…


A Jazzman's Blues
A Triste Balada do Homem do Jazz

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 127 min.

REALIZAÇÃO: Tyler Perry

ELENCO: Joshua Boone, Solea Pfeiffer, Austin Scott.

+INFO: IMDb

A Jazzman's Blues

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