“Viver sem conhecer o passado é viver no escuro”. A máxima proferida pelo guerreiro imortal que protagoniza Uma História de Amor e Fúria é potente. É a verbalização que justifica a existência e relevância do filme. É a resposta para a insistente e ingrata pergunta: de que serve a arte? É o alicerce fundamental para qualquer um que almeje os ideais utópicos da paz e liberdade.
Uma História de Amor e Fúria acompanha seiscentos anos da jornada de um guerreiro imortal através de suas diversas vidas. Seiscentos anos de uma incessante luta em nome do amor incondicional por aquela que insiste em cruzar seu caminho, vida após vida, mas também, em nome da liberdade. A luta desse guerreiro, uma vez indígena, outra negro abolicionista, depois rebelde anti regime militar, então burguês desmotivado, é sempre a mesma. Independente de qualquer época, contexto histórico, cenário político/físico, ou existência. Os conflitos mudam de cara, de ideologia, mas permanecem sempre os mesmos. O lado mais forte oprime o mais fraco, que por sua vez é marginalizado, e então hostilizado e julgado por sua condição imposta de marginal.
O guerreiro luta entre os séculos, sem que seus ideais deixem de ser atuais. Jamais. O que o homem defende é utópico, sua batalha interminável, e seu adversário atemporal. Me refiro ao amor. Me refiro também à liberdade. E, é claro, a todo ódio e opressão que nosso mundo tem a oferecer. Inevitabilidades ingratas pertencentes a qualquer tempo, assim como o próprio filme em si. Uma História de Amor e Fúria com certeza funcionou muito bem em 2013, quando foi lançado. Hoje, em 2023, a obra parece ter ainda mais potência. E, certamente, seria relevante trezentos anos no passado. Um atestado terrivelmente agridoce da potência da arte em comunicar e registrar o eternamente mutável, porém infinitamente cruel status social/político/psicológico/econômico da humanidade.
A guerra pela liberdade, paz e justiça é eterna, por mais que muitos prefiram negligenciá-la. “Viver sem conhecer o passado é viver no escuro”. O que antes fomos, fizemos e pensamos nos ajuda a entendermos quem somos, fazemos e o que nos leva a pensar como pensamos. Olhar para o passado e compreender o que veio antes de nós é iluminar a escuridão e passar a perceber os demônios que se escondem nela. A verdade é perturbadora, e o desespero é o preço necessário a se pagar pela liberdade. O conhecimento é um fardo, e a ignorância é uma benção. Logo, para muitos o breu se faz a opção mais confortável, a alternativa mais fácil, apesar de estúpida.
A arte serve apenas para nos lembrarmos de quem realmente somos. Para nos provocar, nos agredir, e nos iluminar através da dor de nos fazer perceber insignificantes e insuficientes. Para trazer valor a banal ideia da existência. Para permitir que nos permitamos sonhar com a utopia de viver de amor, paz e liberdade, simplesmente.