Adoro filmes sobre guerra. Principalmente sobre a Guerra do Vietnam. Críticas sobre a cultura armamentista, o patriotismo deturpado e o fascínio pela guerra fomentados pelo governo dos Estados Unidos são sempre muito bem vindos, e costumam marcar presença nas narrativas das obras que abordam esse período marcado por protestos e muito derrame de sangue. The Greatest Beer Run Ever (Um Brinde À Amizade) reconhece a estupidez envolvida no confronto dos EUA contra o “TERRÍVEL mal comunista”, e conta, com uma roupagem de sátira, a história real de um estúpido (talvez eu repita esta palavra algumas vezes durante este texto) jovem que decide viajar por conta própria até o Vietnam para entregar cervejas para seus amigos envolvidos na guerra, no intuito de levantar a sua moral.
Um aspecto que costuma estar presente em filmes sobre o assunto é o grande destaque da realização. Obras do gênero almejam impactar, seja com iconicidade ou crueza em suas cenas, para que suas mensagens permaneçam nas mentes do público por muito além do tempo de rodagem do filme. Infelizmente, The Greatest Beer Run Ever não segue por esse caminho e entrega uma realização bem básica. Tudo bem que aqui falamos de uma sátira com foco no humor e despretensão, mas, muitas vezes, o trabalho só parece preguiçoso mesmo. Sem capricho.
As cenas de flashback, por exemplo, só seriam mais toscas e descoladas do restante do filme se usassem efeitos de ondulação para fazer as transições de cenas, acompanhados de um dedilhar de harpa. Com flashes invasivos, TGBRE nos leva para o passado de forma truncada e interruptiva que mais atrapalham no ritmo narrativo do que auxiliam na compreensão da história. É quase possível ver Zac Efron, que interpreta Chickie, o protagonista do longa, olhando para o além e balançando a cabeça, ofegante, ao fim de cada flashback.
Mas Zac Efron, por sinal, faz aqui um bom trabalho. Chickie não é um desafio muito grande para ele, já que o ator tem um histórico notável de personagens como o protagonista de TGBRE: homens carismáticos e/ou populares, porém bobos e ingênuos. Chickie é, assim como qualquer entusiasta que almeja a guerra, estúpido e conservador. Porém, por mais que sua personagem defenda ideais condenáveis e hostilize quem se opõe ao que defende, Efron tem carisma de sobra, e consegue conquistar com sorrisos sinceros que escondem atrás do bigode grosso um homem gentil e empático que, infelizmente, precisa passar pelo inferno para que a ficha caia e perceba que o mundo real é muito mais cruel que imagina ser.
Mas, para que a ficha caia, é necessário muito mais que o choque dos eventos que acaba vivenciando. Na verdade, Chickie é tão estúpido que precisa que fiquem o lembrando a todo momento o quão terrível e desumana é uma guerra. O texto do filme é muito didático, o que, normalmente, contaria para mim como um ponto negativo. Entretanto, no momento em que vivemos, em que o negacionismo e o conservadorismo tomam posições de destaque, e se alastram como uma praga de discursos reducionistas e apelativos, creio que um pouco de didatismo seja muito necessário para provocar a mente de quem se faz muito confortável na ignorância.
TGBRE tem uma mensagem importante para passar, e decide fazer isso de modo a conversar mesmo com o mais alienado e artisticamente insensível dos públicos, e eu não consigo ver isso como uma má decisão.
E assim, com muita ironia e piadas que quase sempre resultam bem, TGBRE entretém fácil e pode até emocionar em alguns momentos. A realização do filme é pouquíssimo inspirada e quase desmotivadora, mas Efron compensa com seu carisma em tela, e garante a leveza e simpatia necessárias para fazer com que se faça valer o empenho em assistir ao longa.