Acompanhado de Nicole Kidman (Lucille Ball) e Javier Bardem (Desi Arnaz), o renomado argumentista Aaron Sorkin volta a se aventurar na realização em Being The Ricardos (Apresentando os Ricardos). Nessa carismática e revoltante trama biográfica, Sorkin apresenta um retrato desglamourizado da Hollywood dos anos 50, que prende nossa atenção com seu ritmo divertido, mas tropeça com decisões narrativas questionáveis.
O casal de astros de Hollywood, Lucille Ball e Desi Arnaz, passam por momentos críticos que podem definir para sempre seus futuros pessoais e profissionais: além de sofrer uma crise em seu casamento e desconfiar da infidelidade de seu marido, Lucille é acusada de ser adepta do comunismo, o que pode acabar com sua carreira e de seu amado.
É na cena que introduz o casal que entendemos a dinâmica de Being The Ricardos. De uma discussão de relacionamento, para uma troca de desejos carnais até uma desesperadora revelação radiofônica: somos conduzidos por uma montanha-russa de emoções que podia muito bem apelar para o sentimentalismo, mas opta por nos receber com carisma e um ritmo muito envolvente.
Parte do mérito desse dinamismo vai para o afinadíssimo elenco do longa. Não só o casal de protagonistas apresenta um entrosamento exemplar, mas os coadjuvantes também brilham ao trazer vida ao divertido texto de Sorkin. Destaque para J.K. Simmons (William Frawley), que consegue trazer muitas nuances à sua atuação, fazendo possível transitar entre ódio e simpatia para com sua personagem, fazendo rir sempre.
A atmosfera do longa sempre se mantém cativante e convidativa, mesmo em seus momentos mais revoltantes. A cultura tóxica da clássica Hollywood e o descaso contra os direitos políticos são abordados com o devido respeito e seriedade, e as consequências desses abusos são mencionadas fielmente. Entretanto, o argumento acerta ao conduzir seu enredo com leveza e bom humor, fazendo de Being The Ricardos uma experiência divertida.
Porém, nem tudo corre bem no filme. Algumas decisões estruturais do longa parecem ser um desserviço à obra, mais atrapalhando do que auxiliando no resultado final.
Primeiramente, temos a inserção de falsos relatos documentais. Linda Levin (Madelyn Pugh), Ronny Cox (Bob Carroll) e John Rubinstein (Jess Oppenheimer) interpretam as versões envelhecidas de colegas de trabalho de Lucille e Desi em cenas completamente descartáveis. Não fica claro o motivo dessa intervenção no enredo, pois esse recurso não faz nenhuma diferença na compreensão da história, uma vez que tudo o que é dito por eles é citado, mostrado ou transmitido de forma sensorial, seja pela atuação, realização, edição ou pela ótima banda sonora do filme. Tudo o que essa decisão consegue gerar é estranhamento e, algumas vezes, quebra de ritmo na narrativa.
Outro ponto negativo de Being The Ricardos é sua estrutura temporal. O filme viaja entre diferentes momentos da vida do casal de atores sem dar pistas claras de onde nos encontramos em sua confusa linha do tempo. Há, sim, certas cenas bem pontuadas cronologicamente, mas outras são costuradas de forma tão orgânica, que parecem construir uma trama linear, trazendo confusão para o seu enredo.
Mas essas soluções questionáveis estão longe de comprometer o resultado final da obra. Being The Ricardos conquista com o charme de Desi Arnaz, empolga com o talento e firmeza de Lucille Ball e diverte com a despretensiosidade de Aaron Sorkin. O filme é uma das produções mais recompensadoras de 2021 e é, com certeza, uma bela adição ao catálogo de originais da Amazon Prime Video.