2022 não tem sido um ano particularmente bom para filmes baseados em banda desenhada, nomeadamente super-heróis. The Batman foi o que mais sucesso alcançou criticamente e fê-lo ao ser uma proposta totalmente diferente do habitual, confirmando que a saturação do género, das mesmas ideias e mesmas histórias é uma realidade. Há ainda a sequela de Black Panther para tentar salvar a honra das histórias mais tradicionais de super-heróis…porque este Black Adam seguramente não o faz.
The Rock a viver um super-herói é algo novo. Não parece. Afinal quase todos os filmes onde o mesmo participa parecem ser mais ou menos sobre isso. The Rock faz coisas impossíveis, está acima de tudo e todos e pela força é capaz de coisas sobre-humanas. Mas essa personagem é The Rock. Aqui ele vive Black Adam. Pela primeira vez, um verdadeiro super-herói. Este super-herói tem um background bastante interessante. Primeiro porque as suas origens são bastante antigas o que nos dá alguns dos melhores momentos do filme – passou vários séculos adormecido ou…prisioneiro – e, depois, porque ele não é exatamente um herói. Também não é um vilão, mas aquilo que nos acostumamos a chamar de anti-herói: alguém que nem sempre faz as escolhas politicamente mais corretas – e este Adão mata mesmo – mas que muitas vezes nos acaba por conquistar por no fundo, no fundo, até entendermos a sua finalidade. Aqui a roupagem foi demasiado mansinha. A zona cinzenta várias vezes referida durante o filme é, na verdade, uma fachada, porque não se vê este anti-herói a fazer escolhas assim tão difíceis. Quando ele decide matar alguém no ecrã é em situações que todos nós pensamos “estavas a merecer”. No entanto, eu entendo que esta tenha sido a escolha da DC para assegurar uma personagem com quem os mais novos se possam identificar.
The Rock tem carisma. Existiu este debate nas redes sociais há algum tempo e há quem pareça confundir ser um excelente ator e ser carismático. Para mim é inegável que The Rock é uma personagem cool – viram o que eu fiz? Ele é uma personagem… – com quem todos nós gostávamos de passar uma tarde a beber umas cervejas (se é que ele o faz…). É uma boa escolha para este papel e nota-se o quão importante o papel é para ele. No entanto, e apesar desta ser uma personagem com muito para dar certo e a escolha de casting seja certa, o filme não resulta. Não resulta porque todo o seu argumento é rebuscado, porque nos interessa mais o que ficou no passado do que a luta no presente contra um fraco vilão, porque o guião é incrivelmente amador, parecendo andar de setpiece em setpiece sem qualquer exploração emocional ou construtiva de personagens. Quando o tenta fazer – com a personagem de Pierce Brosnan, Dr. Fate – tudo parece demasiado forçado e previsível, sendo fácil de adivinhar onde quer chegar.
Visualmente, o filme divide-me. Os efeitos especiais são, na maioria dos casos, muito bons. Há momentos de combate interessantes. Há algumas mortes belas de se ver e mostradas no ecrã de forma minimamente explícita (continua a ser um filme com uma classificação de 12 anos…). Ao mesmo tempo, a fotografia escura e cinzenta é muito pouco justificável, enquadrada com a faceta de anti-herói, mas contrastando totalmente com as várias tiradas cómicas – estilo MCU – que o filme procura incorporar demasiadas vezes. Há momentos cómicos que resultam – com Black Adam, claro, com Dr. Fate e, principalmente com a engraçada personagem secundária, Karim – o problema é que há muitos outros que passam ao lado, muito por culpa de ser um filme tematicamente mais negro do que aquilo que o seu texto procura. Por último, o meu maior pet peeve: o excessivo slow motion. Se esta é uma característica que o universo DC é já conhecido por exagerar, aqui tudo é levado ao extremo, com a incorporação desse elemento a cada 20 segundos, seja em cenas de combate, em flashbacks ou até vulgares conversas entre personagens. É um elemento distrativo que nada acrescenta.
A edição do filme – que abusa de cortes rápidos e que nos atira com um monte de informação a cada minuto, muitas vezes através de voz off – é outro dos aspetos que me incomodou, bem como uma banda-sonora que mistura alguns clássicos de rock (que resultam) com uma composição épica presente em demasiados momentos do filme. Não há espaço para um silêncio, para um diálogo com alma. Tudo é nos mostrado como se fosse um trailer alargado.
Em suma, Black Adam é uma personagem interessante e The Rock parece-me ser a escolha certa. Alguns momentos de acção resultam e tem outras boas cenas cómicas. No entanto, tudo isso é minado por uma pouco convincente história, um péssimo guião e uma edição que fez a minha cabeça andar à roda. Se se retirasse todo o slow-motion, isto seria um filme melhor e com menos 30 minutos.