Tu procura por um filme leve e descontraído, daqueles de aquecer o coração, para terminar bem um dia cansativo e estressante? Então, Cha Cha Real Smooth é a pedida perfeita pra ti! Agora, se o que procura é um filme profundo que mexe contigo e te faz refletir sobre tua vida e como tu lida com teus problemas… bem, Cha Cha Real Smooth também se encaixa nesse perfil!
Através de uma realização segura e sincera, Cooper Raiff entrega uma obra linda e sensível. Raiff conduz sua história de forma muito básica, e faz isso não por falta de talento ou imaginação, mas sim pois sabe que o coração do seu filme mora nos seus personagens complexos e cheios de vida.
E, com certeza, quem mais brilha entre essas personagens é Andrew, protagonista de Cha Cha, que é vivido por ninguém menos que o próprio Cooper Raiff, que também escreve o argumento do filme. Andrew é um jovem extrovertido e extremamente carismático, apaixonado pelas pessoas e, principalmente, pelo desafio de desvendá-las e confrontá-las. Seja alguém querido, detestado ou um desconhecido de Andrew, ele sempre se esforça para levar as pessoas ao limite e extrair delas as reações mais verdadeiras possíveis. E Raiff é tão convincente e caloroso com sua interpretação, que te faz questionar se o que se vê em tela é realmente encenação, ou simplesmente ele sendo ele mesmo o tempo todo.
Leslie Mann também se destaca como a mãe do protagonista, Lisa. Sua personagem já viveu muito e carrega consigo uma bagagem pesada e, por isso, serve como principal âncora de Andrew, responsável por manter seus pés no chão e instigá-lo da mesma forma que ele busca fazer com os outros. Leslie entende muito bem sua personagem e extrai do texto a interpretação de uma mulher resolvida e feliz, que carrega no olhar uma tristeza que a muito é mantida sob controle.
Dakota Johnson é a sensual, deprimida e, de longe, personagem mais complexa de Cha Cha, Domino. Há diversas camadas em Domino: a mãe amorosa e protetora; a mulher mais velha, sedutora e misteriosa; a esposa à procura de estabilidade e segurança; a jovem mãe, depressiva e traumatizada, que constantemente se sabota e evita grandes desafios. Ufa! A barra de viver Domino é pesada, mas Dakota lida bem com isso e apresenta uma personagem apaixonante, envolta numa aura confusa, perdida numa linha tênue entre o pessimismo e a esperança.
E por fim, mas não menos importante, temos a fofíssima Lola, vivida por Vanessa Burghardt. A filha de Domino é introvertida e doce, além de servir como principal elo entre o relacionamento de Andrew com sua mãe. É de extrema importância ressaltar que Lola, uma menina autista, é interpretada por uma atriz também autista. Além da importância de dar lugar a pessoas com deficiência, esse tipo de casting é necessário pois traz uma veracidade e sensibilidade ao produto final que, muito provavelmente, não seria possível com uma atriz não PCD.
E isso é uma das principais qualidades presentes no trabalho de Cooper Raiff: a sensibilidade. Isso é notado nas atuações, na realização e no texto de Cha Cha Real Smooth. Esse é o clima do filme. O seu cerne. Eu te desafio, leitor, de sair desse filme sem um mínimo sorriso no rosto. Ou sem a sensação de que Andrew, ou Cooper (como disse, é difícil dessociar o criador do monstro) é a pessoa mais gentil e carismática do mundo. Mas, caso acabe me vencendo nesses dois casos, duvido muito que chegue até o final indiferente.