A agridoce experiência de C’mon C’mon

Poucos filmes transmitem com tanta autenticidade a agridoce experiência de viver quanto C’mon C’mon (Sempre em Frente). Há muito não assistia a uma obra tão consistente em sua proposta, onde atuações, argumento, realização, fotografia e banda sonora funcionam em completa sintonia. 

Somos absorvidos por uma trama sensível, que transita entre adoráveis momentos de interação entre Johnny (Joaquim Phoenix) e seu sobrinho Jesse (Woody Norman), contemplativos momentos de ponderação existencial, e momentos de uma melancolia duramente relacionáveis. C’mon C’mon é, muitas vezes, difícil, mas a verdade entranhada em seus 109 minutos de duração são engajantes o suficiente para prender nossa atenção do início ao fim.

Parte desse envolvimento com o filme dá-se às entrevistas presentes no longa. Conduzidos por Johnny, jovens de diferentes idades entregam comoventes relatos provocados pela intrigante questão: como você imagina o futuro?

As tais entrevistas são comoventes não só por sua profundidade, mas também por sua veracidade. Os jovens entrevistados para o filme são não-atores, e seus relatos são completamente espontâneos. 

O que ajuda a tornar esses momentos de divagação filosófica memoráveis é a impecabilidade técnica presente no longa. A realização de takes econômicos e contemplativos permeia durante todo o filme, mas é durante as entrevistas que essas escolhas técnicas demonstram seu real valor. Planos abertos da cidade, carros em meio ao tráfego e pessoas circulando nas ruas, vivendo suas vidas em meio ao caos da sociedade. Cada indivíduo ali tem sua própria história, é o protagonista de sua própria vida. Mas, assim mesmo, é irrelevante em meio ao enorme conjunto de existências e possibilidades de um universo repleto de complexidades que nem sequer sonhamos em compreender por completo. Tudo isso acompanhado de uma magnífica banda sonora composta de um tom lúdico e melancólico. 

Talvez por isso C’mon C’mon seja uma experiência tão agridoce. Ao mesmo passo que nos engaja e nos faz relacionar com sua trama, reforça que nossos dramas e questionamentos pessoais são tão irrelevantes quanto nossa própria existência. E, por esse mesmo motivo, acredito que não seja uma experiência para todos. Entretanto, recomendo fortemente para quem procura em uma obra audiovisual uma experiência provocadora e tecnicamente inventiva.


C'mon C'mon
Sempre em Frente

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 1h 49 min

REALIZAÇÃO: Mike Mills

ELENCO: Joaquim Phoenix, Gaby Hoffmann, Woody Norman

+INFO: IMDb

C'mon C'mon

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