Ter um conceito original e divertido é um belo começo. Ter um título e uma personagem viral ainda antes do lançamento é excelente. Mas há vida para além disso e um filme não se deve limitar a uma tagline ou a uma única piada para ser bem sucedido.
Cocaine Bear foi um filme que beneficiou de um marketing viral, incluindo em eventos como o Super Bowl. Um filme que pega num conceito tão ridículo quanto hilariantemente prometedor: várias toneladas de cocaína caem numa zona florestal e um urso local experimenta, adora, quer mais e visivelmente drogado ataca tudo o que encontra pela frente, matando quem se atreve a passar pelo seu caminho. Nunca esperei nem quis que Cocaine Bear fosse um exercício filosófico de questionamento metafísico. Sempre quis que isto fosse apenas aquilo que me prometeu: um filme divertido, com muito humor, boas mortes e um urso drogado que faz as coisas mais malucas possíveis.
Vamos por partes. O urso. Bom. Muito bom design, boa mecânica, realista o suficiente (por vezes, nota-se o CGI claro…) e percebe-se onde foi grande parte deste orçamento. Cada vez que o mesmo está em cena temos os melhores momentos da obra, com mortes brutais, muito sangue e membros a voar por todos os lados. O problema é que é só isso mesmo. A parte do humor? Esqueçam! Se os primeiros 15 minutos da obra prometem uma espécie de filme camp com inspiração em filmes de criatura do passado sem se levar muito a sério…a verdade é que não se levar muito a sério é mesmo a única parte real. O que era para ser camp passa a apenas ridículo e chato. As referências ao passado são forçadas e todo o humor é do mais banal e repetitivo que poderia imaginar. Para piorar tudo isto acontece a um ritmo totalmente errático. A um bom momento – quando o urso aparece em cena para matar todos, claro! – segue-se sempre uma cena três vezes mais longa de péssimas personagens a exporem-nos um péssimo diálogo parte do que também é uma má história. Não houve uma personagem pela qual torcesse a não ser…o urso. Entendo a tentativa de dar uma dimensão familiar à narrativa, mas fazê-lo em conjunto com uma banal e fraca história policial de narcotráficos não me parece que tenha acrescentado alguma coisa ao conceito. Aliás, sinto que ter-me-ia envolvido muito mais se tivesse ido pela via fácil dos “adolescentes a acampar na floresta atacados por monstro mortífero”.
Do ponto de vista técnico, o que se aproveita é o sangue e os efeitos associados à matança do urso. Nada mais. A edição erra fortemente ao não nos dar uma obra fluída, o uso da câmara varia entre o banal e o competente e a música parece saída de uma qualquer série televisiva fraca dos anos 80, com um tom cómico que não se ajusta à quantidade de vezes que, de facto, rimos com as piadas. No trabalho de atores há também…nada a dizer. Ray Liotta não merecia que este fosse o seu último filme e nomes como Keri Russell, Isiah Whitlock Jr. ou O’Shea Jackson Jr. – que paupérrima atuação… – mereciam que ao guião fosse dado o mínimo tratamento. Mereciam que isto ao menos fosse engraçado de se assistir.
Acreditem, não estou a ser muito exigente. Se estivesse a avaliar pela ótica de “cinema”, estas duas estrelas seriam claramente exageradas. Eu sabia onde estava a meter-me e só me queria divertir. Quando o urso está em cena a matar, cumpre o prometido. Sempre que o urso não está – e acontece por demasiado tempo – é um filme seco e mau. Muito mais enfadonho do que engraçado.