Já lá vão oito anos desde que James Wan nos trouxe The Conjuring pela primeira vez. O realizador que tinha chegado ao estrelato com Saw e já contava com outros sucessos pelo caminho – Insidious, o maior deles – deu-nos a conhecer o casal Warren, que apesar de serem conhecidos no mundo paranormal, foi aí que ficaram famosos para o público cinematográfico de terror. O filme foi um sucesso imediato, apoiado numa realização e edição bastante seguras e numa história sem pontas soltas. O sucesso foi tanto que uma das sub-histórias abordadas no filme até viria a dar num outro famoso spin-off (Annabelle). Três anos mais tarde, o mesmo Wan trouxe-nos a sequela. Um filme que, na minha opinião, é em tudo superior ao original. É mais assustador, é mais criativo, é mais imprevisível, tem um ritmo mais acelerado e tem Londres como pano de fundo, nomeadamente um bairro residencial, o que o tornou mais assustador do que a habitual casa assombrada isolada. Mais uma vez, o sucesso do filme levou a que uma sub-história desse filme desse lugar a um spin-off (The Nun). Mais tarde, percebeu-se que The Curse of La Llorona também fazia parte deste universo já alargado.
E é assim que chegamos a este The Conjuring 3: The Devil Made Me Do It, já com uma base de fãs bem alargada e com expectativas para cumprir. Com uma particularidade: pela primeira vez nos filmes da saga (sem considerarmos os spin-offs), o realizador não seria James Wan, que se limitaria a constar como produtor e consultor.
Alguns receios haviam que Michael Chaves (que apenas tinha no currículo o não-muito elogiado The Curse of La Llorona) não soubesse dar conta do recado, mas acho que essas dúvidas foram exageradas. A máquina está oleada e a química entre Patrick Wilson e Vera Farmiga (o casal Warren) é uma das mais credíveis na história do cinema de terror, sendo difícil dar errado. Os dois voltam aqui a ter uma excelente interpretação e arrisco-me até a dizer que a química (e o amor) entre os Warren é ainda mais notório, sinónimo também de uma idade mais avançada e de uma maior experiência e conforto entre os parceiros.
Quanto ao filme em si, Chaves optou – e bem – por uma abordagem totalmente diferente do habitual. Isso nota-se na história, que não é aqui mais sobre uma casa assombrada, mas sim, sobre um homem que cometeu um assassinato e tenta, agora, provar em tribunal que estava possuído durante esses momentos. Essa abordagem permite uma maior utilização de espaços exteriores, alargando o plano de acção. Mas não é apenas no guião (que, aliás, não estava nas mãos do realizador – Wan e Johnson-McGoldrick escreveram) que Chaves opta pela diferença. Na própria realização existe uma clara mudança na utilização da câmara em relação ao que Wan tinha feito no 2º capítulo, onde muitas vezes nos sentíamos quase que na primeira pessoa e com várias cenas longas, a prolongar os momentos de suspense. Chaves tem um estilo próprio e aqui mostra-nos que os seus cortes mais rápidos também produzem resultados, embora a sua construção de suspense ainda não esteja ao nível do que James Wan é capaz de fazer.
De qualquer forma, e ainda que, talvez, o fio condutor não seja tão cativante e as personagens secundárias não sejam tão marcantes quanto as dos dois primeiros capítulos, a introdução de novos elementos – relacionados com o satanismo – permitem respirar um pouco de ar fresco na saga. As imagens inquietantes continuam presentes e várias “transformações” nos são mostradas de um modo eficaz, incluindo uma bem interessante cena de exorcismo que…não envolve os Warren! O filme contém também várias referências a filmes que nos habituamos a ver na nossa juventude, como The Shining, The Exorcist ou A Nightmare on Elm Street 4, que farão as delícias de todos os fãs mais atentos.
Em jeito de conclusão, é um filme que não envergonha o legado e que funciona bem como um terceiro filme, enquadrado numa trilogia, que não cheira a fim de linha para estas personagens. The Conjuring 3 inova e desbrava novos caminhos, contendo várias referências a clássicos de terror. Pode não ser tão assustador e tenso como os capítulos anteriores, mas mantém a consistência da saga, com mais um forte capítulo.