Quando, em 2011, Nicolas Winding Refn (NWR) nos deu Drive, eu fui um dos seus mais fiéis admiradores. Misturando uma personagem carismática – de poucas palavras – e um estilo muito próprio, o filme nunca se esquece de nos dar boas sequências de acção e cenas que emocionalmente resultam bem, especialmente dentro do submundo que nos apresenta. Desde aí, NWR tem procurado dar-nos mais do mesmo, tendo conseguido pouco mais do que foi positivo e muito mais do negativo.
Nas suas temáticas e abordagem, Copenhagen Cowboy tem muitas das características habituais nas obras do criador. Fala-nos de gangsters e vingança através de uma personagem de poucas palavras, apresentando sequências visualmente bastante apelativas. Desta feita, ele até acrescenta elementos misteriosos à trama. No papel principal temos Miu, uma mulher com poderes sobrenaturais, que se cansa de ser utilizada apenas como amuleto da sorte e, deambulando pelo submundo de Copenhaga, vai-se encontrando com várias figuras do submundo da cidade, incluindo outras personagens que também escondem os seus segredos, mais ou menos sobrenaturais.
Tudo isto – que é bem interessante na aparência – é-nos apresentado de um modo super lento e, pior, nada orgânico. Tudo – a trama, as personagens, as cenas – parecem jogar para se encaixar no estilo da obra e não o contrário. Há cenas boas, claro. Eu direi que por dois episódios o diferente ambiente apresentado, quase parecendo um sonho, é fascinante o suficiente para nos prender a atenção. Mas chega para justificar seis episódios de uma história que deixa pontas soltas em cada uma das suas subtramas, raramente nos apresentando qualquer desfecho conclusivo? Não. Os seis episódios chegariam para isto e muito mais se as personagens se comportassem mais como pessoas reais, andassem a um ritmo normal, falassem a um ritmo normal e não parecessem estar num qualquer exercício de representação alternativo que pretende, acima de outra qualquer coisa, testar a nossa paciência. Por cada cena bem executada, temos duas que nos fazem suspirar ou rir da sua execução, como, por exemplo, a do combate final que parece retirada de uma versão antiga de Mortal Kombat em 2D. Dá para tolerar isto num original episódio de Black Mirror. Não no final de uma série de seis episódios que já há muito esgotou a paciência de qualquer mente sã.
Angela Bundalovic faz um interessante trabalho dentro daquilo que lhe é pedido na personagem principal, mas o que é que realmente sabemos sobre a personagem Miu? O que é que desenvolveu durante os seis episódios? E quanto à dimensionalidade de todas as outras personagens? Há algum momento em que elas nos dão mais do que versões estereotipadas que pretendem encaixar no “estilo NWR”? Não porque o autor nem com isso se preocupa. Ele sabe que tem os seus seguidores, que tem a sua audiência e que basta mostrar que a série tem as suas marcas identitárias para a conquistar, mesmo que isto em pouco ultrapasse um exercício auto-masturbatório.
Numa entrevista recente, Refn disse que a inspiração para o título da série não tem nenhum significado profundo, tendo vindo apenas do autor achar que as palavras “Cowboy” e “Copenhaga” ficam bem juntas. Isso resume muito bem tudo aquilo que ele faz na atualidade. Estilo, sintetizadores, luzes néon, atmosfera sombria, ritmo anormalmente lento e as mesmas temáticas de sempre. Infelizmente, muito estilo acima de qualquer substância. Nicolas Winding Refn é, aos dias de hoje, o melhor autor a parodiar aquilo que ele já foi no passado.