Cry Macho (ou a meiguice em corrigir o passado)

Clint Eastwood tem 91 anos. Clint Eastwood é republicano. Clint Eastwood tem oito filhos. Clint Eastwood é de outros tempos. Clint Eastwood é história ambulante. Clint Eastwood tem falhas. Clint Eastwood é humano. Clint Eastwood é macho. Clint Eastwood quase me fez chorar.

Cry Macho tem 1h44 de duração, mas o seu ritmo introspectivo em tom, amplitude paisagística por toda a cinegrafia e ternura natural a desenrolar o enredo levam a que preencha bem as medidas e faça parecerem-se 3h20 sem enjoos.

É o primeiro filme que vejo no grande ecrã nesta era/pós-era Covid. Que belo regresso a esse lugar estranho em infraestrutura, porém familiar e nostálgico. Não me informei em nada sobre este filme. Só sabia do nome Clint Eastwood. Estava um pouco ferido desde American Sniper e depois The Mule. Não obstante, a sala praticamente vazia, os lugares ao centro no segundo talhão sem absolutamente ninguém à minha volta, com as pessoas na rectaguarda com um comportamento exemplar formaram uma atmosfera irresistível a que despisse as defesas e me entregasse a este filme. Que bom que assim foi.

Este filme tem planos de paisagem até demais, mas nunca demais. Ri-me de forma crescente com o crescente número de planos e em finais de segmento em que não fazia sentido serem pontuados desta forma. Não interessa! Estética, estética, estética. Este senhor sabe realizar. Não está aqui nenhuma obra-prima com pretensão a prémio nenhum, está aqui vontade de entregar uma coisa bonita.

Redenção é o tema que pauta o filme. É um arco por demais usado, contado e recontado, portanto Cry Macho conseguiu ainda assim prender-me a esse arco pela forma de como Eastwood o quis dirigir e interpretar (o velhote é realizador e protagonista aqui! Belo do Libidium Fast!).

Clint mostra mais uma vez uma frescura e presença de faculdades artísticas completamente paradoxais do seu cada vez mais decrépito e abatido corpo, o que nem de propósito encaixa que nem uma luva no perfil da personagem Mike Milo. Nem Johnnie Cochran reencarnado conseguiria provar que esta luva não cabe!…

Há uma cena em particular que praticamente me deixou de rastos onde as únicas forças que me ajudaram a não sucumbir e a que a minha namorada terminasse ali a relação por susto de que me tivesse tornado incontinente visual, foram a escuridão da sala e a transição para outra coisa qualquer que me levou dali bem rápido para prosseguir com o filme. Odeio-te Clint e obrigado Clint!

Há muita verdura no elenco coadjuvante, quiçá propositada, que adiciona à ternura que o filme transborda a dado ponto de viragem do tom em meados do segundo acto. Eduardo Minett liga bem a energia e juventude que providencia com a visível e transparente velhice de Clint. Natalia Traven é um furacão encapsulado de actriz secundária que cunha bem esse estatuto, tanto mais quando contracena com Eastwood e ambos se digladiam sobre o título de personagem mais enternecedor.

Fiquei encantado. Foi um teste à testosterona que pugna constantemente com a sensibilidade sobre quem leva a sua avante enquanto espectador neste filme. A sensibilidade venceu e Cry Macho fez ligação directa ao meu coração com 4 estrelas.


Cry Macho
Cry Macho - A Redenção

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 104 min.

REALIZAÇÃO: Clint Eastwood

ELENCO: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Natalia Traven

+INFO: IMDb

Cry Macho

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