Dez anos depois, o muito aguardado (e temido) regresso de Dario Argento. O mestre do cinema de terror italiano volta à sua praia. Um serial killer está a matar prostitutas, mas algo corre mal com uma delas que sobrevive depois de um brutal acidente de automóvel que a deixa cega. A única coisa que a mulher se relembra é da carrinha branca que a perseguia…
É complicado falar de Argento e do género giallo em geral sem conhecermos a audiência que está a ler a crítica. É um género muito específico recheado de clichés, de camp, de cenas cómicas que não o deveriam ser no papel…um género também sempre acompanhado de uma fortíssima banda sonora e e de muito sangue. Argento traz tudo isso para cima da mesa em Dark Glasses. No papel principal Ilenia Pastorelli faz exatamente aquilo que é pedido dela como final girl – sim, os giallo são basicamente percursores dos modernos slashers -, sendo credível no papel de cega, mas também tendo o carisma e humor necessários para nunca nos deixar levar isto muito a sério.
O argumento é um dos pontos mais fracos do filme, pois ainda que a premissa inicial seja suficientemente interessante, a verdade é que a história parece pouco desenvolvida, baseando-se em sucessivos cenários para onde vamos saltando como se de um videojogo se tratasse (embora este defeito não seja assim tão incomum na carreira passada do cineasta). Para piorar, isso fica ainda mais evidente no terceiro ato quando Argento quase derrapa por completo abusando dos elementos camp, conseguindo no entanto equilibrar-se numa irónica e “bem giallo” cena final com um herói improvável e gore com fartura. Grande cena!
A nível dos valores de produção, além do gore já mencionado, o filme apresenta uma bonita fotografia muito baseada em cores vivas, mas é na componente sonora onde está o seu maior forte com uma orquestração do outro mundo, ou melhor, de outros tempos. Pode parecer que não faz sentido em cenas mais tensas, até se deixarem levar e entrarem naquele mundo muito próprio do género.
Em suma, Dark Glasses apresenta-nos as marcas identitárias de Argento para o bem e para o mal. Isso inclui cores vivas, muito sangue, mistério, crítica social, muito camp (que será sempre confundido com más atuações) e diálogos divertidos. Não está entre os seus melhores, mas também não entre os seus piores. Os seus verdadeiros fãs sairão satisfeitos.