Jamie Foxx é dos artistas mais versáteis e talentosos de sempre. É cantor, é actor, é comediante e é muito bom em todas estas avenidas. Com prestações mais ou menos conseguidas sempre em projectos ambiciosos, de sucesso e projecção, mantém-se como aposta segura de sucesso comercial para qualquer entidade que pegue nele. A Netflix lembrou-se e assim o fez.
Passado o lamiré a uma decisão acertada no meio de tanto tiro no escuro, a essa empresa que foi o baluarte dos serviços de streaming e agora gere comercial e duvidosamente quem é e como faz as coisas, falemos então nesta aposta ganha.
Day Shift é uma comédia de acção protagonizada então pelo inolvidável Jamie Foxx, na pele de Bud Jablonski, um limpador de piscinas muito peculiar.
A forma de como o universo deste filme é construído está muito sóbria, doseada crescentemente e inferida em vez de esparramada nas nossas caras. É desembrulhada uma faceta de Los Angeles que esteticamente encaixa na perfeição de uma temática obscura difícil de puxar: o tom exótico californiano com o terror gótico vampírico.
Jamie é bem camaleónico nesta interpretação. É uma pessoa quando está com a filha na sua rotina diária e outra bem diferente quando vai limpar piscinas com alho, prata, cruzes e armamento de milícia. Quando os dois mundos inevitavelmente se cruzam, este senhor mistura de forma perfeita a intensidade de caçar vampiros com um propósito e a ternura, preocupação e instinto protector de um pai extremoso que não olha a meios para dar o que tem e não tem.
A acção é muito bem conseguida entre intervenientes, EXCEPTO as piruetas de patinagem artística que pontuem os finais das sequências de luta. Entendo que se queira ter tentado algo diferente, mas há o convencional, o diferente, o bom e o mau em ambos. Aqui, sempre que algum ser paranormal levava um pontapé final, tinha de rodopiar como um peão do Aniki Bobó (1942, Manoel de Oliveira. Cultivem-se.).
Apreciei amplamente os efeitos especiais por ter notado muito pouco guisado digital e mais do bom uso de efeitos práticos dado que a forte maioria de paranormalidades aconteceu em baixa luz.
Dave Franco apareceu o suficiente. A sua acção de co-protagonista foi a estritamente necessária para não tornar Day Shift num banal “buddy-cop” e o que fizeram com ele foi amplamente apreciados, até para efeitos do que esta entrega de pouco menos de 2h de rodagem tem potencial para ter como franquia.
A maior pista de que isto poderá ser uma aposta salutar por parte da Neflix em replicar ou ampliar este universo é o enredo por demais simples, directo, sem grandes rodeios e artifícios, o que favoreceu algumas curvas à esquerda no filme. Bud, na sua lide de limpezas mata uma vampira. Vampira essa é muito querida de uma outra vampira poderosa. Vampira poderosa e despeitada procura vingar-se de Bud. O resto é bom, acrescenta a esta linha condutora, mas de desnecessário realce para não estragar nada.
Menção honrosa a Scott Adkins e Steve Howey que estrelam a melhor sequência de acção de todo o cinema mainstream que vi em 2022 (não vi Top Gun nem Bullet Train nem outro filme qualquer de acção que possa ter porradaria bruta que me reformule esta menção).
Com a visualização deste filme e este texto do que penso dele feitos a dois turnos, é mais que merecida a avaliação de 3 estrelas e meia, porque se tanto, Jamie Foxx, Dave Franco, aquela altamente forçada co-protagonista que nem quero saber o nome e Snoop Dogg me mostraram o poder incrível do trabalho por objectivos sem procrastinar pelo meio.