Deadstream foi o vencedor do prémio do público nesta edição do MOTELX. Não vou tecer considerações sobre isto sem antes vos falar um pouco sobre esta comédia de terror que faz algumas referências ao mundo do terror e ao mundo dos influencers.
A história fala-nos de Shawn, um Youtuber caído em desgraça – a esta altura ainda não sabemos porquê – que num esforço para recuperar a sua base de fãs está disposto a um último grande número: filmar-se a ele próprio sozinho numa casa assombrada. Nada de muito novo nesta premissa. De quase todos os Continentes já vieram obras de elevado valor com premissas semelhantes, mas Deadstream procura uma abordagem irónica e cómica, num filme que aposta bem mais neste aspeto do que no terror. Shawn força a sua entrada na casa – para ser sincero aqui, com cinco minutos de filme, já me começava a tirar do sério a sua personalidade… – e, obviamente, faz o que não deve, despertando fantasmas que – mesmo fechados naquela casa há décadas – parecem entender referências atuais e tudo.
Comédias de Terror são complicadas de encontrar o equilíbrio. Shaun of the Dead ou Slither estão entre as que mais me marcaram neste século, mas felizmente há muitas mais que conseguem balançar de forma correta os dois elementos. Deadstream não é um desses exemplos. O principal problema do filme chama-se Shawn. Esta é uma personagem terrível, que acha que tem sempre uma piadinha para qualquer momento – e isto é de 20 em 20 segundos –, sempre com um gritinho falso e exagerado, sempre a piscar o olho ao espetador, quase como que pedindo “agora riam-se, por favor!”. Os níveis de palermice desta tentativa frustrada de Evil Dead são tão elevados que à passagem da meia hora cheguei até ponderar abandonar a sala. Felizmente, não o fiz, pois apercebi-me de alguns méritos.
Os efeitos práticos são muito bons. Sou um fã quando estes são bem utilizados, não sendo preciso fortunas para se criarem criaturas aterradoras e aqui devo destacar o excelente trabalho da equipa por detrás dos mesmos. Outro fator positivo é que dois ou três jumpscares realmente funcionam. Sim, é certo que seguem muitos dos clichés dos found footage – câmara a mudar rapidamente de direção; fantasma a correr em direção à mesma e som a aumentar estrondosamente -, mas fá-lo bem, com eficácia e é o que salva isto da tragédia total. O facto dos elementos de terror estarem bem desenhados só me deixa ainda mais frustrado por isto não ter ido mais por essa via, até porque a certos momentos até se consegue criar uma boa atmosfera…por alguns segundos. Ah, mas lá vem um fantasma que espeta um dedo no nariz e temos que nos rir como se fossemos uma criança de 3 anos…
E aí voltamos. Comigo este humor não resulta. Não há volta a dar. Duas ou três referências e piadas fizeram-me sorrir, mas a maioria das piadas – e situações – são baratas, secas e provocaram-me pouco mais do que um revirar de olhos. O seu principal plot twist é super previsível, mas isso nem seria de me chatear muito num filme do género. O que me chateou mesmo foi aquela execrável personagem que usa e abusa do overacting para nos tentar vender estupidez pura e dura.
Volto à questão do prémio do júri. A audiência na sala parece mesmo ter adorado este filme. Pelo menos, riram-se bem mais do que eu. Não sei se julgaram a qualidade do filme ou se julgaram as vezes que se riram e de como saíram de alma leve (coitados dos filmes mais negros se este for um critério geral), mas numa votação os resultados são o que são e temos que aceitar. Não deixa, no entanto, de ser super desapontante constatar que numa edição do MOTELX com filmes tão importantes e com tanto para dizer, a escolha do público tenha sido uma proposta tão vazia. A crítica aos youtubers e afins é bem menos eficaz do que em produções similares – Spree é infinitamente superior –, parecendo mais uma paródia do que uma crítica propriamente dita e se querem uma proposta similar, mas mais séria, meu rico Gonjiam…
O filme que venceu o prémio do público do MOTELX foi também o filme que menos gostei entre os 23 que vi e analisei. Comédias de terror não são fáceis, mas, para mim, a fronteira está entre o humor e a idiotice. Excelentes efeitos práticos e alguns sustos, mas não me peçam para ficar nem mais cinco minutos com uma personagem tão irritante e patética quanto Shawn.