Os materiais promocionais não despertaram muito o meu interesse e o meu conhecimento deste universo era muito próximo do nulo. No entanto, o próprio título refere dragões, então não há como não dar uma chance, certo?
A verdade é que o primeiro ato de Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves não me convenceu por aí além. A cena de abertura é entusiasmante, mas a forma como os vários elementos da equipa vão sendo recrutados parece um pouco desconexa e episódica. A juntar a isso, o primeiro ato está cheio daquele humor próprio dos filmes do universo MCU, em que os nossos protagonistas quase páram o que estão a fazer para nos piscar o olho. Já aí a magia mostrava ser um dos pontos fortes do filme, com efeitos bem conseguidos não abusando dessas características. Mas faltava a alma. Felizmente, a alma estava ali ao virar da esquina.
É quando o nosso conjunto de heróis encontra Xenk – Regé–Jean Page – que as coisas começam a aquecer e o meu interesse começou a subir. Não é que o autor tenha uma atuação especialmente brilhante. É competente. Mas é a partir desse exato momento que a história passa para primeiro plano e expande-se, dando-nos mais criaturas míticas, incluindo…dragões! A partir desse segundo ato, o filme entusiasma, equilibra o humor tornando-o mesmo menos fequente e mais certeiro e começamos a sentir que estamos a ver uma real equipa em cena, uma equipa pela qual queremos torcer. Para tal é necessário que o elenco trabalhe todo no mesmo sentido e isso acontece. Ajuda, claro, que estejamos diante de um elenco de luxo, comandado pelo sempre entusiasmante Chris Pine no papel principal de Edgin. Ele é acompanhado pela também sempre eficaz Michelle Rodriguez como Holga e os dois papéis são tão diferentes – ela fria como uma rocha, ele sempre pronto a soltar uma piadinha – que se complementam na perfeição assim que tudo começa a entrar nos eixos.
Mas eles não estão sozinhos. Justice Smith e Sophia Lillis são Simon e Doric, duas personagens que irão fazer as delícias do público adolescente – ou jovem adulto – e que têm bastante tempo no ecrã para mostrar o que valem aproveitando excelentes arcos de personagem com impacto forte na história. Do lado oposto, há um brilhante Hugh Grant a viver Forge, um vilão pouco honesto e mais parvo do que temível e uma misteriosa e arrepiante Daisy Head como Sofina que apenas peca por vermos menos do que gostaríamos de ver dela em cena. Todos os elementos deste elenco funcionam e eles são secretamente o coração do filme e aquilo que mais vontade nos dá de vermos mais histórias deste mundo.
Não quer isto dizer que o mundo criado não é interessante. Antes pelo contrário. As criaturas mágicas – as que estão no centro da ação e também aquelas que estão em segundo plano – são fantástica e estão muito bem cacterizadas. A magia – seja a que é usada para o bem ou para o mal – faz uso de excelentes efeitos especiais para nos dar algo que poderia muito bem fazer parte de um Harry Potter ou até de um The Lord of the Rings. Por último, é também bom salientar o tom leve. Se ao início o humor não me convenceu, a partir do momento que as coisas estabilizaram, o braço tem que ser dado a torcer: este tom leve de aventura divertida – pensem em The Princess Bride ou Pirates of the Caribbean – é provavelmente o melhor caminho para esta saga e aquele que oferece maiores possibilidades para o futuro. Gostava de ter visto mais dragões, sim, mas o que é mostrado é fantástico. Nunca irei esquecer aquele dragão gorducho!
O filme tem excelentes setpieces e cenas bem concecibas – seja a inicial, a do dragão já referida ou o labirinto no início do seu ato final – mas o melhor de tudo é que não sobreutiliza nada, havendo muitas portas abertas para muito mais. Se o material promocional não me convenceu, o primeiro ato desconexo e carregado de humor ao estilo MCU ainda mais de pé atrás me deixou. É, no entanto, com prazer que digo que a partir daí tudo melhorou siginifcativamente começando pelo próprio humor. Excelente elenco, boas personagens, cenas marcantes e grandiosas, ação e efeitos sólidos e um último ato recheado de coração. Com o universo agora estabelecido, há espaço para grandes coisas no futuro.