Don’t Breathe 2 toma estranhos caminhos, mas mantém-nos interessados

É esta sequela necessária? Não. Toma esta sequela uma direcção “um pouco” problemática? Sim. É este filme bom e funciona bem de forma independente? Sim. Agora têm que ler tudo para entender…

Em 2016, Fede Alvarez trouxe-nos Don’t Breathe, um thriller/terror, que parecia “apenas mais um” filme do subgénero de home invasion. Não foi. Praticamente, todo filmado dentro de casa, com pouca luz e com personagens bastante cizentas na sua moralidade, o realizador foi capaz de nos dar um dos melhores filmes do género, muito bem realizado e incrivelmente tenso, onde fez com que simpatizássemos com jovens assaltantes que só queriam melhorar a sua vida, fazendo a coisa errada: assaltando um cego rico! E simpatizámos porque os jovens tiveram que procurar sobreviver às mãos de um sádico assassino, sequestrador e, mais tarde se veio a saber, alguém que injetou o seu sémen, de forma forçada, numa mulher. Portanto, violador.

Em 2021, chega-nos a sequela, realizada por Rodo Sayagues, que já tinha escrito e produzido o primeiro em conjunto com Alvarez, que aqui mantém-se nessas funções, deixando a realização para novas mãos. Só que desde os trailers percebemos que parecia haver aqui uma novidade: a personagem principal era Norman Nordstrom, o homem cego, que até parecia atuar como uma espécie de vingador neste filme!

É assim? Quase. Decansem, não vou entrar no campo dos spoilers! No entanto, posso dizer que Norman vê a sua casa ser assaltada por bandidos, desta feita, bem menos cinzentos do que no primeiro filme, com todos os clichés de vilões: mau aspeto, palavrões e a matar quem nada tem a ver com o assunto, o que faz, logo, com que nos sintamos do lado do veterano de guerra. Mas estes parecem ter um interesse especial na filha de Norman, que até aqui desconheciamos. Sim, por vezes, o homem cego fala-nos, por alto, do seu passado, apelida-se de “monstro” – que o é – e fala de todos os seus pecados. No entanto, isso mais parece ser usado para empatizarmos com ele e para o perdoar pelos seus pecados, pois precisamos dele para salvar o mundo de pessoas ainda piores do que ele! Querem que recorde tudo o que já vimos do homem?!

Afastando essas questões morais, a história também segue caminhos, sensivelmente a meio da duração, pouco esperados e até um pouco absurdos. Eu “comprei-a” porque até gosto de caminhos alternativos e gosto que me tragam algo diferente, mas, de certeza, que muitos irão dizer em voz alta: “que granda treta”! Não é o mais convincente plot que já vi posto em prática e fiquei com algumas questões, mas, ao menos, posso dizer que foi inesperado e que me fez sorrir pela audácia. Por essa altura, o filme também muda de cenário, o que é uma lufada de ar fresco, garantindo que não assistimos a uma quase repetição do primeiro filme.

No que diz respeito aos atores, Stephen Lang tem, mais uma vez, uma excelente atuação no papel de Norman. E acredito que aqui ainda seria mais complicado, tais as nuances da personagem e o argumento um pouco limitado. A pequena Madelyn Grace também representa bem com o que tem, embora os “maus da fita” sejam bastante limitados, parecendo vilões de um genérico filme de ação dos anos 80. Viram o que eu fiz, certo? Vilões. Porque a estrela aqui é Norman, uns dirão “anti-herói”. Não sei, continuo chocado com esta inesperada transformação!

Tecnicamente, ao nível da fotografia, o filme não atinge os níveis do original, parecendo mais “suja” e com menor qualidade na sua composição. De qualquer forma, os efeitos sonoros e a música mantêm o nível, sendo essenciais para as cenas de maior suspense. Já no que diz respeito a outros elementos visuais, este é um filme bem mais sangrento e explícito do que o primeiro, havendo mais mortes, sendo estas mais imaginativas e espetaculares, com várias cenas chocantes de “desviar o olhar”. Ainda assim, por vezes, esse choque parece ter sido uma opção tomada em detrimento de uma maior tensão, o que é pena, pois esse era o maior ponto forte do original.

De uma forma geral, Don’t Breathe 2 não é um fracasso, como se chegou a temer. Brincou com o fogo, mas consegue sair apenas ligeiramente chamuscado. O filme procura que simpatizemos com uma personagem que antes nos forçou a temer e odiar e, por isso, acredito que até resulte melhor com quem não viu o primeiro filme. Independentemente disso, entretém e mantém-nos sempre interessados. Perde em tensão, mas esperem mais gore e mortes violentas.


Don't Breathe 2
Nem Respires 2

ANO: 2021

PAÍS: EUA; Sérvia

DURAÇÃO: 98 minutos

REALIZAÇÃO: Rodo Sayagues

ELENCO: Stephen Lang; Brendan Sexton III; Madelyn Grace

+INFO: IMDb

Don't Breathe 2

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