Um grupo de crianças fica misteriosamente à deriva no oceano, a bordo de um prédio abandonado. Para conseguirem voltar para casa, precisam aprender a trabalhar em equipe e superar suas desavenças. Esta é a premissa de Drifting Home. Um enredo estranho que usa de uma situação inusitada para criar metáforas para assuntos como luto e desapego.
Drifting Home joga suas personagens em um cenário absurdo, do qual jamais imaginariam vivenciar, para discutir dilemas que são comuns a todos nós: a dificuldade de lidar com mudanças, seguir em frente e superar o que ficou no passado. Todos já passamos, ou viremos a passar, por situações angustiantes em que o simples ato de lidar com uma nova realidade se faz, aparentemente, impossível. Pois é um grande acerto do filme usar de um artifício fantástico para traduzir de forma literal o que acontece internamente nas personagens. O prédio em alto mar representa a magnitude de toda sua dor e angústia. Um desafio sem precedentes e insuperável.
Entre um desafio e outro, Drifting Home conquista com suas personagens cheias de personalidade e sua arte linda. As crianças muitas vezes podem ser irritantes, mas isso não fere a qualidade do filme, uma vez que os comportamentos imaturos, mimados e teimosos que apresentam são comuns durante a infância. As crianças aprendem com as adversidades, evoluem e saem de sua jornada transformadas. E, o mais importante, são genuinamente crianças, pois se portam como crianças, e não como pequenos adultos. Quanto à animação, há apenas o que se elogiar. Drifting Home utiliza do 2D com pinceladas de 3D que destacam os momentos de maior fantasia da obra. A mistura de elementos visuais é harmoniosa e jamais parece gratuita. Com os visuais em terceira dimensão, nos deparamos com elementos estranhos, de outro mundo, mas que sempre se mantêm verossímeis.
Já em relação ao argumento, Drifting Home não apresenta tanta harmonia. Inicialmente, o filme faz bom uso da subjetividade, usando da exposição com cuidado, sem exageros. Porém, infelizmente, isso muda no grande e espetacular terceiro ato do longa. Com a mão pesada no drama, que vai muito além do necessário para desenvolver o vínculo emocional da obra com seu público, Drifting Home insiste em bater na mesma tecla e jogar na cara de quem assiste à sua trama o que já se tinha compreensão desde dois terços do filme. Ao invés de seguir em frente e dar uma conclusão ao que vinha sendo tão bem construído até então, o filme decide que é melhor se certificar de que todos tenham ciência do que quer dizer, e o que quer fazer sentir. É curioso, pois, assim como suas personagens, Drifting Home se vê muito apegado aos seus próprios dramas, e tem dificuldade de superar isso e seguir em frente.
Mas, mesmo com uma conclusão cansativa que se estende sem necessidade, Drifting Home é, sim, muito competente. Sua trama é inusitada e cativante, além de ser facilmente relacionável. Certamente, irá conversar com qualquer um que já lidou com grandes mudanças em suas vidas, o que pode ser reconfortante, e faz valer a pena a jornada oceano a dentro.