Não há muito a dizer sobre este filme com o título que nunca mais acaba. É um drama coming-of-age onde nada se destaca. Nada acontece de verdadeiramente filmográfico de retratar. Nada que faça com que esta história mereça ter sido filmada.
Este filme acontece numa Nápoles da década de 80 e retrata a vida e história dessas gentes até decidir afunilar esse retrato à vida e história de Fabietto, um garoto cuja vida é do mais banal e mundano que se possa imaginar.
É carregado de charme e ternura italianos. Tem toda a roupagem de um filme italiano e o apelo ao drama demarcativo italiano de algo que acontece como trágico “italianamente” exponenciado. Tem o objecto sexual em forma de mulher italianamente despida. Tem o enquadramento histórico envolvente que predetermina a personalidade e meio socio-económico daquele sítio em Itália.
Mas não é bom.
Não é por se ter os melhores ingredientes ao alcance que faz com que o prato final seja qualitativamente acima de meramente comestível só porque se soube seguir a receita. A Bimby é batota nas cozinhas de qualquer um, porque a Bimby faz qualquer coisa sair industrialmente perfeita. O factor humano é relegado para canto porque é o factor humano que faz com que o prato final falhe… Mas é o factor humano que faz com que o prato final seja incrível, indescritível, inexplicavelmente bom. É o factor humano que faz com que o meu arroz de atum seja melhor do que qualquer um dos vossos. A Netflix há muito tenta ser a Bimby do audiovisual, mas com este filme, a tentativa de risotto surtiu apenas em mais arroz.
Imputo o insucesso deste filme para comigo por dar-se novamente o nexo de causalidade de que esta produção é exclusiva pra Netflix. O protagonista Filippo Scotti que interpreta Fabietto Schisa é um pateta-alegre, muito contemplativo do meio que o envolve e que navega com a leveza de uma pena de gaivota em alto-mar e com a opacidade de uma garrafa de plástico jogada ao mar. Há fogachos de sentimento e personalidade deste garoto, mas são claramente takes editados às escondidas de Sorrentino porque o esforço em não ter absolutamente nada de destaque a mostrar ou fazer acontecer neste filme tem de ser destacado. Só pode ter sido de propósito.
Há também travos de espiritualidade ou misticismo que acontecem, não são explorados, e fica-se assim na penumbra. No propósito ou despropósito do que aquelas cenas representam no todo e, pela minha óptica, na inquietação frustrada de não se ter explorado mais disso porque isso foi o que de mais interessante se passou neste filme. Vá, isso e o diálogo entre ele e o cineasta frustradinho napolitano… Espera! Querem ver que… Não pode! Será!? Será este filme uma biografia do realizador onde somente no final do último acto deu alguma alma ao filme para fazer encaixar que o palermita do protagonista é, na verdade, ele e de como os eventos desenrolados fizeram com que visse na realização de filmes o escape que necessita para fazer sentido da sua vida ou, passando a redundância, escapar dela?
Tal como neste filme, esta crítica somente percepcionou esse interesse no final, quando já passou o tempo e a oportunidade para ter sido algo de bom.