A saga de Evil Dead tem já uma cronologia daquelas difíceis de explicar. Ok, pensemos apenas nos filmes para facilitar. A trilogia original de Sam Raimi saiu entre 1981 e 1993 e é composta por “The Evil Dead” (terror puro), “Evil Dead 2” (mistura de terror com comédia) e “Army of Darkness” (algo que entrar num território…diferente). Mais tarde, em 2013, tivemos um excelente remake, chamado de “Evil Dead”, de Fede Alvarez, que eleva o terror a patamares elevados com boas doses de sangue e tensão.
Agora, em 2023, temos “Evil Dead Rise” que…a forma mais fácil de explicar é dizer-vos que isto não tem qualquer ligação com nada do que antes foi feito. Há quem fale de uma cronologia onde isto continue a trilogia original, mas esqueçam isso. Isto é um filme que – tal como o de 2013 – se aguenta muito bem sozinho embora faça algumas referências óbvias a tudo um pouco do que a saga fez antes.
“Evil Dead Rise” tem uma estrutura interessante. A cena inicial é nos dada um dia no futuro. É sangrenta, é arrepiante, tem estilo e atira-nos com o título do filme para a cara no final da mesma. Excelente.
Voltamos então para o dia anterior que é o que vai compor 95% deste filme. Beth (Lily Sullivan) vai visitar a sua irmã, Ellie (Alyssa Sutherland) que vive num apartamento com os seus três filhos: Danny (Morgan Davies), Bridget (Gabrielle Echols) e Kassie (Nell Fisher). Quando os jovens sairam de casa para ir comprar uma pizza, dá-se um forte terramoto que abala as estruturas do prédio e abre um enorme buraco. Curioso, Danny, decide explorar o mesmo e descobre bem escondido um misterioso livro e três discos, decidindo trazê-los para o apartamento. Mal ele sabia que isto tudo iria – literalmente – abrir as portas do inferno!
Tal como aconteceu em 2013, este novo capítulo da saga também não perde muito tempo a entrar na ação. Além de nos dar logo muita na cena introdutória no amanhã, não demora mais do que dez, quinze minutos para subir a tensão no tempo presente. A partir daí é verdadeiramente sempre a abrir. E quando digo sempre a abrir, devo dizer…vocês não estão preparados para isto! Sangue, vómitos, sangue, memberos decepados, sangue, imagens arrepiantes, sangue, tiros na cabeça deixando enormes crateras, sangue, serra elétrica, sangue, picadinho de carne humana, sangue, faca de cozinha, sangue, cortador de queijo, sangue…vocês perceberam a ideia: sangue!
O gore atinge neste filme níveis que não estamos muito habituados a ver em grandes produções de Hollywood que, atualmente, tentam mais atrair um público universal que se esteja a reapaixonar pelo terror através daquilo que o Scream de 2022 chamou de “terror de elevação”. Este é um filme que não quer saber disso para nada. Este é um filme que nos quer encher os sentidos de tudo aquilo que nos possa fazer virar a cara para o lado, fechar os olhos e ter reações mais extremas. Não é um filme que joga com o medo ou com o sugestivo. É um filme que joga todas as suas cartas no cocktail de terror extremo e violento que coloca no ecrã. Não esconde absolutamente nada e nem pede perdão por aqueles que irá ofender pelo caminho. Sim, é nojento. Não o esconde. E há público para isto que irá consumir este filme e revê-lo várias vezes, pois neste campo é do melhor que o terror alguma vez nos deu.
A nível das atuações, Evil Dead Rise também pontua. As grandes estrelas são as irmãs. Alyssa Sutherland como a primeira a “deixar” que o mal se apodere dela – isto não é spoiler, pois está por todo o material promocional – tem quase todo o tempo de antena como “possuída”, mas isso não impede que faça um excelente trabalho nesse papel, dando mesmo personalidade a algo que já muito vimos antes no terror. Ela tem um enorme tempo de ecrã neste papel quase parecendo que estamos a ver um filme da saga Exorcista. Ainda assim, o maior destaque terá que ir para a final girl – será?! – Lily Sullivan que se transforma completamente ao longo do filme indo buscar forças – e expressividade! – ao fundo do abismo. Verdadeiramente impressionantes e demolidores são os seus momentos finais que a colocam num patamar entre o mais elevado de atuações clássicas do género. Os outros atores também todos cumprem com o esperado, com a melhor prestação entre os mais novos a ser a de Gabrielle Echols, que vive a jovem adolescente que alertou para os perigos daquele livro, aquela que mais rápido foi chegando a conclusões e que também progride para algo totalmente diferente com o decorrer do filme – que fascinante cena na cozinha!
Tecnicamente, além do festival de gore ser lindo, entusiasmante, grandioso e um deleite para os olhos, a realização, de Lee Cronin, é ela toda muito boa, sempre com interessantes planos de câmara. Várias vezes nos mostra elementos cruciais em segundo plano, outras vezes alterna entre planos estáticos e planos em movimento na mesma cena e até é capaz de nos apresentar alguns inspirados dutch angles. Tudo isto acompanhado por uma fotografia escura que dá uma sensação de claustrofobia e isolamento que nos coloca um nó na garganta. Além de tudo isto, o som ensurdecedor e a banda-sonora pesada colocam o espetador onde o realizador quer: sem conseguir colar as costas à cadeira, sempre tenso e à espera do que virá a seguir. Com tudo isto, este é um filme que não perde muito tempo em explicações ou justificações. As únicas vezes que o faz é através da escuta dos discos encontrados na cave. Mas será isso assim tão importante num filme do género? Para mim, pessoalmente, resultou, mas acredito que algumas pessoas precisem de um pouco mais de história e até podem ter sido deixadas algumas pontas soltas.
Mas…como isto me agradou e me colocou um sorriso na cara! Evil Dead Rise é já um dos grandes filmes de terror de 2023 ao apresentar-nos, com distinção, uma proposta sem qualquer medo de chocar. A preversão e a violência atingem patamares absurdos com níveis elevadíssimos de gore, sangue e vómitos no ecrã. É nojento? Claro que sim. Deliciosamente nojento. Deliciosamente eficaz.