Há muito que a Netflix procura uma franchise de filmes, um universo que faça as pessoas voltar e interessarem-se pelas suas sequelas e, quem sabe, eventuais spin-offs. Pode ser que aqui esteja a sua maior cartada. O primeiro Extraction é um filme quase esquecível, excetuando uma brilhante cena de ação que, por si só, garante que nunca venha a cair no esquecimento. É também o primeiro filme de Chris Hemsworth como Tyler Rake e o seu carisma foi suficiente para carregar o filme às costas. Nesta sequela, não se mexe demasiado na receita mas aprimoram-se vários aspetos, aumentando a escala de tudo o que faz.
Rake (Chris Hemsworth) não está muito interessado em continuar a sua vida de mercenário depois de miraculosamente ter sobrevivido aos eventos do primeiro filme. No entanto, o pedido que lhe é feito obriga-o a mudar de ideias. É que Rake tem uma dívida de vida para com a sua ex-mulher, Mia, e quem precisa de ajuda é a irmã da mesma e os seus dois filhos – Sandro e Nina -, que estão com o gangster Davit Rabiani – marido de Ketevan e pai de Sandro e Nina – numa prisão na Geórgia. Rake parte, então, para a missão de os resgatar, contando com a preciosa ajuda de dois velhos conhecidos: Nik (Golshifteh Farahani) e Yas (Adam Bessa).
A maior e mais impressionante cena de ação deste filme ocorre precisamente na prisão: 21 minutos de ação imparável num único take! Palavras nunca farão justiça a esta cena e vezes não me faltarão em que colocarei o filme a dar apenas para rever a mesma. No entanto, Extraction 2 faz algo bem melhor do que o primeiro filme, mesmo tendo também uma cena muito marcante: consegue manter o nível até ao final com outras cenas incríveis que continuarão a fazer as delícias dos fãs de ação, utilizando alguns elementos over-the-top e sempre alguma inovação. Sam Hargrave volta a impressionar na forma como apresenta tudo tão crú, tão fácil de se ver e tão entretido para o espetador em casa. Não admira saber que, tal como acontece com quem está por detrás de John Wick, também ele era um coordenador de duplos, antes de enverdar pela realização de filmes de ação.
O guião é fraco, mas qual é exatamente a novidade? Filmes devem ser apreciados de acordo com a sua proposta. Ninguém pode ir ver este filme esperando o subtexto de um filme de Ingmar Bergman. Sim, há blockbusters que o fazem de forma mais inteligente, mas a verdade é que essa nunca é aqui a proposta. Ainda assim, devo admitir que é nos seus momentos mais calmos, entre as cenas de ação, que o filme mais claudica no seu ritmo. Por vezes, parece que, em vez de nos pedir para respirar, nos está a dizer para ir beber um cafézinho e voltarmos para as cenas de pancadaria. Talvez também não seja demais pedir vilões um pouco mais carismáticos para as sequelas que estão aí a vir…
Já falei em Chris Hemsworth e ele é, sem dúvida, a estrela destes filmes. Este é o papel onde mais gosto de o ver e não tenho dúvidas que o ator australiano irá continuar a fazer sequelas disto por muitos anos. Há uma interessante e imperfeita backstory desta personagem e, de forma até surpreendente, o que ele faz até chega a emocionar – pelo menos, a quem é pai – numa das últimas cenas do filme. Ele é o herói de ação perfeito e encaixa que nem uma luva no papel de Tyler Rake. Muito bem também está outra vez Golshifteh Farahani, a dar o equilibrio à relação de ambos que felizmente nunca vai para o campo do romance banal. Eles são irmãos. Talvez não de sangue, mas irmãos.
A Netflix pode mesmo ter encontrado aqui a mina de ouro que tanto procura a nível de uma franchise de filmes. Simultaneamente, deveria ser processada por não nos permitir ver isto numa sala de cinema. O guião de Extraction 2 é básico e vulgar – como esperado – mas o carisma de Chris Hemsworth, que parece ter nascido para este papel, alia-se a uma ação filmada de modo impressionante, praticamente perfeito. Nos tempos que correm, as personagens de John Wick e Tyler Rake carregam às costas o cinema de ação norte-americano.
