Há algum tempo que a saga de Fast & Furious parece ter expirado a sua validade, mas isso não impede os seus acérrimos fãs de continuarem a encher as salas para ver novos filmes da saga de Dominic Toretto.
O que começou como um filme de corridas ilegais de carros transformou-se num filme de assalto, mas isso seria apenas o prenúncio para, a partir do 6º filme, se tornar numa saga de ação completamente over-the-top. O que antes dizíamos ser uma “grande mentira”, mas onde ainda havia uma tentativa de fazer tudo parecer minimamente possível, tornou-se numa certeza abraçada por estes filmes. Tudo o que aqui é feito a nível de ação já não tenta conter qualquer tipo de lógica e se querem desfrutar destes filmes, isso têm que abraçar.
Confesso que foi a seguir a Fast Five – o melhor, de longe, da saga – que isto me começou a perder. Foi quando se tornou num filme de super-heróis, mas um filme de super-heróis onde nada parece estar em risco, pois já perdi a conta à quantidade de personagens que nos foram dados como mortos para que em capítulos seguintes ressuscitassem. Assim como perdi a conta ao número de vilões que foram totalmente descaracterizados e passaram a fazer da “família” ou então viraram caricaturas completas. Sim, estou a pensar, por exemplo, na personagem de John Cena nesta filme. Se em F9 Jakob é um (pouco) temível vilão, aqui parece ter-se tornado numa espécide de Peacemaker versão paródia. Estou a pensar que para além de Hoobs e Shaw, até já Cipher parece fazer parte da equipa. Já esquecemos tudo o que alguns destes fizeram, incluindo matar alguns dos membros da família. Ou apenas aparentemente, de qualquer forma.
Essa falta de coerência demonstra um desenvolvimento fraco e fácil e volta a preocupar-me aqui em Fast X. Afinal, interrogo-me…talvez esta personagem de Jason Momoa – Dante, filho do vilão de…Fast Five – ainda vire bonzinho num dos dois próximos filmes. De qualquer forma, ele é uma lufada de ar fresco. O melhor que este filme tem para dar. Talvez, a certos momentos, exagere na sua excentricidade. Talvez queira ser demasiado um Joker. No entanto, sempre que o mesmo está em cena, capta toda as atenções. É divertido – tem as falas e expressões mais engraçadas do filme – mas, ao mesmo tempo, possui aquela explosiva aura de perigosidade e, com isso, traz, provavelmente o melhor vilão de toda esta saga. Colocando de forma simples: todas as melhores cenas do filme têm Momoa e são melhores porque Momoa faz algo que as torna melhores.
Os outros subplots variam. O trio de mulheres duras – vividas por Charlize Theron, Brie Larsson e Michelle Rodriguez – resulta surpreendemtente bem. Se Rodriguez parece ter crescido como atriz e Larsson traz algo de interessante – embora nem sempre com a melhor atuação – à saga, Theron é a melhor atriz que por aqui anda. Já os habituais Ludacris e Tyrese, como Tej e Roman, servem para pouco mais do que algumas piadas forçadas, tal como já vem acontecendo há algum tempo. Se retirarmos todo o subplot deste grupo – que inclui ainda Han (Sung Kang) e Ramsey (Nathalie Emmanuel) – não se vai perder grande coisa. Sim, eles trazem Shaw de volta à ação, mas nem isso parece especialmente relevante para este capítulo. Isso leva-me até outro problema…isto cheira mesmo a capítulo inicial. O filme termina com um cliffhanger. Isto é o início de algo e todo ele parece mesmo apenas arranhar os alicerces desta história.
Entre os 25 e os 70 minutos, Fast X tem do melhor que a saga nos deu desde Fast Five. Há uma excelente sequência em Roma – acreditem, uma all-timer da saga -, há uma – a única!!! – corrida de carros no final dessa hora no Rio de Janeiro e muito Dante no ecrã. O problema é que muito do que está à volta é composto por aquele azeite habitual. Muita família, muito discurso oco onde Vin Diesel pensa que está nas filmagens de The Godfather, muitas frases banais, muitos crucifixos, muita banalidade e ainda mais olhos revirados.
Há portugueses por aqui, como sabem. O maior destaque vai para Daniela Melchior que, certamente, irá voltar a marcar presença na saga – nem quero spoilar quem ela é! Mas o melhor relativamente a Portugal é mesmo a cena final. Monstruosa, absurda, caríssima. É a que encerra o filme e podem esperar de tudo a explodir, desde carros a helicópteros, passando por pontes e barragens. Não é a melhor cena do filme – Roma, Roma, Roma! – mas é aquela que me voltou a reanimar depois de tudo ter estado num ritmo tão errático depois do confronto na corrida de carros – boa, mas muito batida – no Rio de Janeiro.
Em suma, vocês sabem exatamente o que esperar daqui. Zero lógica, tudo a explodir no ecrã, dores nos ouvidos, testosterona em abundância e ainda mais azeite a cada discurso fraco e limitado sobre uma família que não pára de crescer. Há uma cena fantástica em Roma, há algum bom Portugal e há, acima de tudo, um grande e excêntrico Jason Momoa que – ao ser o único que percebe que tipo de filme está a fazer – quase faz isto ser bom.