Fear Street Part 1: 1994 é uma homenagem sangrenta e sobrenatural aos 90s

Chegou o primeiro capítulo da aguardada trilogia Fear Street, da Netflix. Livremente adaptada da coleção de livros com o mesmo nome, da autoria de R.L. Stine (talvez mais conhecido por Goosebumps), o filme vai buscar elementos a diferentes livros da série, na que é, parece-me, a melhor adaptação da obra do escritor até ao momento.

A primeira cena do filme coloca-nos imediatamente na acção, ao estilo de Scream, um filme que, como não poderia deixar de acontecer numa homenagem aos anos 90, é bastante referenciado ao longo desta obra. Scream marcou uma geração e reinventou o género do terror e é curioso que, a poucos meses do lançamento do 5º capítulo, tenhamos acesso a uma trilogia que, fortuitamente, até poderá servir de enorme propaganda à saga. Mas vamos à trama de Fear Street: a cidade de Shadyside tem sido, ao longo de mais de 300 anos, assolada por vários assassinatos que tornam o crime tão banal que até deixa de ser novidade. Agora, e sem o terem procurado, cinco adolescentes podem ter encontrado a razão para tal acontecer. E é à volta desses cinco adolescentes e do grande mistério com origem no passado que o filme gira.

Felizmente para todos nós, as personagens estão bastante bem construídas e é fácil gostar delas, não sendo um daqueles filmes onde desejamos que todos os adolescentes morram violentamente (isso eu espero da Parte 2, com a homenagem aos filmes de campos de férias!). Temos um romance proibido no centro da trama (onde Kiana Madeira como Deena brilha bem mais do que Olivia Welch como Sam); temos irmão de Deena, Benjamin Flores, a fazer de nerd com várias tiradas cómicas e a interpretar bastante bem o papel de Josh; e temos os best friends Kate (Julia Rehwald) e Simon (Fred Hechinger), também bastante bem construídos, como adolescentes que aprenderam a superar dificuldades desde cedo, tendo direito a ter alguns dos mais divertidos momentos da película.

O elenco resulta na generalidade e o que também resulta é o conjunto de assassinos que vemos em cena. Com várias cenas que fazem lembrar clássicos do género (Scream está estampado durante todo o filme, mas há referências também a Halloween, por exemplo), os assassinos são misteriosos, poderosos, mas longe de serem perfeitos, podendo falhar em momentos-chave, mais uma vez, seguindo a lógica que Scream nos apresentou – a de subverter as expectativas do género. A banda sonora está recheada de clássicos da época (talvez em demasia, podendo até ser uma distração na primeira meia hora) e a imagem e roupagem são também hinos à mesma década. A realizadora Leigh Janiak, que também realiza os dois capítulos seguintes (que saem nas próximas duas semanas) tem aqui, provavelmente o hit que precisava, logo na sua segunda longa-metragem e isso será bem merecido, porque nota-se o trabalho de casa feito para a criação desta obra, onde os promenores sobressaem a cada esquina logo numa primeira visualização.

Há elementos que, ainda assim, podem saber a pouco. Como é habitual em primeiras obras, pensadas como parte de uma série, existem várias perguntas por responder, embora seja difícil julgar isso sem saber se tudo não faz parte do plano. O segundo acto não é, também, tão desenvolto como o primeiro ou o terceiro, com, talvez cinco ou dez minutos em excesso, que poderiam muito bem ter sofrido um corte na edição. E por último, o filme não é tão assustador como muitos desejariam. Como várias vezes afirmo, essa é também a beleza e a complexidade do terror: é um saco com vários sub-géneros e nada pode agradar a todos, mas há sempre algo que agrade a alguém. Aqui, apesar de ser um filme que não vos vai deixar assustados com o barulho que ouviram na cozinha, é um filme que agradará aos amantes de sangue, não só na cena inicial (que cena brutal!) ou numa interessante passagem pelo hospital, mas, principalmente, já perto do final, onde somos presenteados com a que é, até ao momento, a melhor morte no cinema de terror em 2021. Isto é especialmente surpreentente se considerarmos que o filme tem uma toada bem adolescente, à lá Stranger Things.

Em suma, se pensavam que a Netflix não sabia o que estava a fazer com a forte campanha promocional em todo o mundo, pensem duas vezes: a parte 1 de Fear Street cumpre com as expetativas e deixa-nos a desejar a sequela. É um slasher adolescente sobrenatural que faz jus a tudo o que procura homenagear. Não vos vai obrigar a dormir de luz acesa, mas a excelente construção de personagens, o equilíbrio entre comédia e terror e a sua facilidade em tirar de cena – de forma violenta – quem menos se espera fazem esta viagem valer muito a pena. Que venha a parte 2!


Fear Street Part 1: 1994
Rua do Medo - Parte 1: 1994

ANO: 2021

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 107 minutos

REALIZAÇÃO: Leigh Janiak

ELENCO: Kiana Madeira; Scott Welch; Benjamin Flores Jr.; Julia Rehwald; Fred Hechinger; Maya Hawke

+INFO: IMDb

Fear Street Part 1: 1994

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