“Finding ‘Ohana” é um filme de aventura que se junta ao sub-género de “caça ao tesouro”. Com comparações óbvias a “Indiana Jones”, é nos “Goonies” que a realizadora vai buscar a sua inspiração. Afinal, o filme é uma aventura para toda a família, mas em especial para os mais jovens.
O filme começa com Pili (Kea Peahu) a vencer uma competição de Geocaching (Uma espécie de caça ao tesouro no meio urbano, com várias pistas espalhadas pela cidade, em que qualquer um pode jogar. Basta fazer o download da app para o telemóvel) em Nova York, cidade onde foi criada. O prémio seria a entrada num acampamento de geocachers, no Verão.
Mas as coisas nem sempre correm conforme o planeado e Pili acaba por passar o Verão no Havai. O seu avô, Kimo (Branscombe Richmond), teve um ataque cardíaco e a sua mãe, Leilani (Kelly Hu), viajou com ela e com o seu irmão, Ioane (Alex Aiono), para a terra que deixou após a morte do seu marido. Ao chegarem deparam-se com uma realidade bastante diferente daquela que estão habituados. Longe dos seus amigos e do local onde cresceram, os irmãos vão ter de se desenrascar. Enquanto Ioane se preocupa com o facto de não ter wi-fi, Pi começa logo a explorar a zona. Típico de Geocacher.
Costuma-se dizer que “a curiosidade matou o gato”, mas desta vez a curiosidade fez com que Pi encontrasse um mapa do tesouro que estava na posse do seu avô há anos. E após descobrir os problemas financeiros do seu avô, que pode perder a casa que pertence á família há várias gerações, ela decide fazer-se á aventura. Começa por pedir ajuda ao avô, ajudando a criar um laço entre uma jovem nova-iorquina com um velho resmungão do Havai. Dá para imaginar, certo? Mas não dura muito. Apesar do seu avô conhecer a zona como a palma da mão, ele já não tem idade para aventuras e acaba no hospital.
Pili junta-se então a Casper (Owen Vaccaro), que também conhece bem a zona, e partem para uma emocionante aventura. Juntam-se ainda o seu irmão e Hana (Lindsay Watson), a rapariga que deixou Ioane de queixo caído.
Aquilo que mais nos prende ao ecrã é o facto do filme ser bem pé-no-chão. Sem espaço para tecnologias avançadas, gadgets, ou outras coisas que pudessem ofuscar o brilho dos protagonistas. Aliás, sem espaço para tecnologias avançadas e quase sem espaço para uma tecnologia que hoje serve para tudo: Telemóveis. É verdade. Esse ponto importante, focado tantas vezes pela realizadora Jude Weng, dá-nos uma sensação de nostalgia que já não estamos habituados hoje em dia. Mas quantos de nós é que nos metemos em aventuras sem a ajuda dos telemóveis? Quem é que nunca se aventurou por sítios sem rede onde o telemóvel nunca foi solução para nada? Parece que foi há séculos atrás não é? O filme resgata muito bem essa essência de aventura infantil á moda antiga, onde é preciso amarrar cordas, mergulhar, saltar e procurar saídas. Tudo isso com a inteligência e a criatividade como únicas aliadas.
Para além disso, a realizadora subverte os estereótipos: Os mais novos é que encorajam os mais velhos, e as meninas é que salvam os meninos. Mas há uma pergunta que me inquieta. Onde é que estão os vilões? Sinto que foi a única coisa que faltou no filme. Ainda assim, com mais de duas horas de duração, e com um ritmo sempre frenético, duvido que houvesse espaço para mais. Pelo menos para acrescentar sem estragar. Porque todos os personagens foram cuidadosamente desenvolvidos ao longo do filme.
O protagonismo vai todo para Pi, não apenas por ser a protagonista do filme, mas pela actuação deslumbrante da novata Kea Peahu. Especialmente nos flashbacks, vistos do seu ponto de vista, que resultaram em cenas bastante engraçadas. Já imaginaram piratas sérios a agirem como se fossem crianças patetas? Mas não se ficou por aí. A actriz foi realmente um grande achado! Carismática e plenamente á vontade atrás das câmaras, Hollywood não deve tardar a meter os olhos nela. Ainda mais numa altura em que tanto clamamos por mais diversidade…
Quanto ao título, basicamente resume o filme: Ohana, ou família, é o principal fio condutor de toda a trama. Seja Kimo e Leilani, pai e filha, que fazem as pazes e conseguem encontrar um meio-termo na dor e na saudade. Seja com Pili e Ioane, que depois de passarem o filme todo ás turras, como verdadeiros irmãos, acabaram por finalmente aprenderem e respeitarem-se um ao outro. Afinal, por mais guerras que hajam entre eles, serão sempre família. E a família é para o bom e para o mau.
“Finding ‘Ohana” é a receita indicada para estes dias de confinamento chuvosos. Juntem-se em família, ao sofá, e viajem.