Five Nights at Freddy’s irá terminar o fim-de-semana com a maior abertura no cinema de um filme de terror em 2023. Irá terminar também com a maior abertura de sempre num fim-de-semana de Halloween. E por mim poderia muito bem terminar por aqui porque é um produto – sim, é o que isto é – totalmente vazio que não cumpre requísitos mínimos de qualidade em qualquer avalição cinematográfica.
Querem saber porque é que isto teve o sucesso que teve? Fácil. IP. IP para quem não sabe significa (traduzido para português) “propriedade intelectual” e, quando aplicado a novos filmes, diz respeito a filmes que já têm uma marca vendável – e fãs – antes de chegar ao cinema. Neste caso é um videojogo. Nada contra. A maioria dos filmes baseados em videojogos não são bons, mas ainda recentemente tivemos o bom exemplo da excelente série de The Last of Us. Acontece que isto não vale mesmo nada e isso sim é um problema.
A história coloca como protagonista Mike, um jovem adulto que vive atormentado com o trauma do desaparecimento do seu irmão e que tem como responsabilidade cuidar e proteger a sua irmã, ainda criança. Saltando de trabalho em trabalho, acaba por aceitar um trabalho como guarda noturno de um restaurante fechado há vários anos. Aí coisas estranhas começam a acontecer com umas mascotes animatrónicas que ganham vida própria e dão início aos seus próprios jogos mortais. Ah, para ajudar à festa há uma familiar de Mike a tentar tramá-lo para ficar com a custódia da sua irmã. No que é que isso ajuda o argumento deste filme? Nem sei. Acredito que seja só mesmo para matar algumas personagens secundárias.
Toda a história é uma enorme trapalhada e a verdade é que os robots, os animatrónicos, o que raio lhes queiram chamar, são a melhor coisa disto. Não porque façam algo especialmente espantoso ou assustem alguém, mas, sim, porque o seu design está bem conseguido e nas mãos certas, com a atmosfera certa, isto poderia muito bem ter resultado. Mas não. Alguém achou que bastaria dar tons escuros e colocar-se uma banda-sonora genérica de filme de terror para que o ambiente certo fosse criado. Errado. Este filme nunca tem o mínimo suspense, o mínimo de tensão, o mínimo de atmosfera que seja. Olhando para o argumento, isso até poderia não ser problema se as coisas fossem levadas mais para o lado da paródia e do camp, mas nada! Isto leva-se a sério como se fosse uma continuação de The Shawshank Redemption.
Além dos robotzinhos bem criados, há uma ou duas mortes (estou a exagerar, acho que é mesmo apenas uma) bem conseguidas. Uma delas até me deixou com vontade de agarrar nisto e entrar dentro deste mundo, mas essa curiosidade durou três minutos até voltar todo o drama familiar e relacional patético – sim, há um estúpido interesse do sexo oposto que poderia ter evitado tudo se tivesse dito duas palavras que fossem -, recheado de péssimo diálogo que nem as séries juvenis da TVI têm coragem de dar à sua pouco exigente audiência.
Não há muito para dizer sobre isto que até poderá eventualmente agradar a fãs do videojogo caso não tenham a mínima noção do que é ou deve ser um filme (acredito que cada vez há mais pessoas assim). Percebe-se que este jogo terá servido de inspiração a Willy’s Wonderland. Os cenários são muito parecidos, os “monstrinhos” também e o mesmo ambiente aborrecido e sombrio também se repete. Acontece que esse filme, pelo menos, não se leva demasiado a sério e dá-nos violência com fartura. Este – como pretende atrair os putos fãs do jogo – tem uma censura de M12, não mostrando praticamente nada no ecrã.
O filme de terror que mais dinheiro fará no cinema em 2023 é também um dos piores filmes (de qualquer género) do ano. Infelizmente, conheço Hollywood e sei que isso significa sequela a caminho. Não joguei o videojogo e pouco me importa se esta adaptação é fiel ou não. Importa-me sim que seja um mau filme que faz Willy’s Wonderland – sim, o de Cage – parecer uma obra-prima. Gen Z: já vos perdoei muita coisa, mas dificilmente vos irei perdoar as vezes que, sentado na minha sanita, irei pensar nesta coisa.