Sim, mais um filme sobre a criação de uma marca ou produto conhecido. Este, talvez, nos diga menos a nós porque o seu maior sucesso foi e tem sido mesmo no continente norte-americano Falo da história dos Cheetos Extra Picantes que muito devem à comunidade mexicana nos EUA.
Não irei muito a fundo em relação à veracidade de toda a história. A maior parte disto é verdadeiro, mas – como em qualquer obra do género – há coisas aqui inventadas ou exageradas para que o produto final seja ele mais cinematográfico. No enredo, Richard Montañez (Jesse Garcia) tem dificuldades em arranjar um emprego e sair da teia criada à volta das comunidades de descendentes latinos nos EUA. Depois ter tido o seu passado relacionado com o crime (nada de demasiado grave), Richard consegue finalmente um emprego a trabalhar na fábrica da empresa dona dos Cheetos, a Frito-Lay. Apesar de começar no patamar mais baixo da hierarquia de funcionários, ajudando na limpeza da fábrica, Richard começa, desde cedo, a interessar-se pela produção dos snacks, aproximando-se de Clarence Baker (Dennis Haysbert), um engenheiro de manutenção, que se torna um verdadeiro mentor para si. Apesar de todos aconselharem-no a ficar quieto, a cabeça de Richard nunca o atraiçoa e ele irá tudo fazer para alcançar o impossível e criar um produto revolucionário que será do agrado de muitas pessoas que pouco são vistas e ouvidas nos EUA.
A estrutura é simples, a história é contada de um modo linear, embora existam interessantes opções de edição – apresentando-nos cenários fictícios como se fossem verdadeiros – que ajudam a que tudo seja apresentado de um modo enérgico e convincente. Eva Longoria estreia-se na realização, com uma história que muito lhe diz, e fá-lo com competência. Não há aqui nada de transcendental e o guião do filme segue quase tudo o que dele se espera. Ainda assim, o que é apresentado é feito com confiança, percebendo-se que a direção do que é pretendido é sempre seguida meticulosamente.
A narração de Jesse Garcia (o Richard) nem sempre é perfeita e, por vezes, pareceser em excesso, apesar dele ser um carismático ator, que nos prende à sua personagem e à história que nos vai contando. Ainda assim, além de jogar as suas cartas de forma demasiado segura, o maior defeito da Flamin’ Hot – e aquilo que lhe impede de atingir outros patamares – é a dificuldade que tem em equilibrar o tom certo e os momentos mais dramáticos na abordagem a problemáticas bastante fortes com real impato na vida daquelas pessoas. Tudo é feito de um modo leve, de um modo para nos colocar um sorriso na cara, mas isso leva a que quando quer impactar emocionalmente, seja recebido com pouco mais do que um bocejo da nossa parte, excetuando no clímax onde toca nos botões certos e até nos pode fazer verter uma lágrima.
Poderá existir aqui algum excessivo corporativismo ou venda do sonho americano de uma forma simplista e um pouco ultrapassada. Mas, afinal, quem não gosta de uma boa história de superação e de sonhos impossíveis tornados realidade? Pouco me interessa se a história tem uma componente fictícia ou não, pois eu nunca esperei ver um documentário. Flamin’ Hot vacila um pouco no seu tom e tem dificuldades a nos impactar dramaticamente quando aborda temas fraturantes destas comunidades. Ainda assim, é um filme leve, engraçado, bem produzido, bem editado e com uma direção bastante confiante de Eva Longoria, que se estreia de forma positiva na cadeira da realização.