France é uma famosa jornalista sensacionalista que tem dificuldade em lidar com sua vida pessoal e com a fama. Devido ao seu enorme carisma em frente às câmeras, ela tem a atenção de todos, que seguem seus passos diariamente com entusiasmo. Mas, infelizmente, tamanho carisma não ultrapassa a barreira da tela em que o filme é exibido e o argumento pouco faz nos importar com o que acontece em cena.
A indiferença domina em France. Algumas passagens de comédia ou momentos mais dramáticos chegam a cativar e mantém sua atenção por alguns vagos minutos, porém, durante praticamente todas as mais de duas horas de duração do filme, me fiz a pergunta: por que estou assistindo a isso?
Não me entenda mal, France até tem uns bons comentários a fazer. Faz críticas ao capitalismo, a manipulação de informação, a indiferença no meio midiático, entre outras coisas. O problema é que o contexto em que isso tudo está inserido é extremamente desinteressante.
Há bastante humor em France, mas essa abordagem nem sempre funciona. O exagero e a falta de noção das personagens até fazem sentido em cenas como a entrevista na abertura do filme, mas botar France, nossa protagonista, para dançar e dar risada em meio a um campo de batalha é forçar demais a barra.
France não nos recompensa com sua jornada como protagonista. A vemos passar por diversos conflitos, e nada disso parece trazer consequências realmente significativas para sua vida. Em certo momento, vivenciamos uma tragédia na vida de France, algo capaz de fazer seu mundo virar de cabeça para baixo. Acontece que, no fim das contas, essa cena serve apenas para pontuar que, a partir desse momento, ela está ainda mais deprimida que antes.
O que mais frustra no exemplo que usei, é que a cena da tragédia é de um primor técnico e sensibilidade incríveis. Uma promessa de crescimento no enredo que infelizmente não se cumpre.
Porém, aproveito que destaquei a qualidade técnica para apontar o que há de bom em France.
Dentro dessa realidade de comédia debochada, há muito espaço para superficialidade e ficção. A vida profissional de France se vê em volta disso: manter aparências para as câmeras, planejar comportamentos em eventos públicos, moldar a realidade a seu benefício através da magia do audiovisual, etc. France vive uma farsa, o que justifica a pontual banda sonora sintética, digna de um sci-fi coberto de metal e borracha.
São poucos os momentos em que ouvimos instrumentos tradicionais acompanhando as imagens em projeção. Isso acontece nas raras ocasiões em que France se desvincula da personagem que criou para si mesma. Esses momentos duram pouco. Logo nossa protagonista se vê em conflito novamente, os sintetizadores nervosos voltam e se unem às convencionais cordas e companhia, causando uma confusão sonora e emocional.
O que também funciona muito bem são as atuações de Léa Seydoux (France) e Blanche Gardin (Lou). Gardin rouba a cena sempre que entra em quadro, apresentando uma personagem irônica, debochada e divertidamente revoltante. Seydoux também diverte, mas se destaca quando é exigido dela um maior peso dramático. No take final, por exemplo, Léa encara a câmera transmitindo imensa sensação de tristeza e desconforto apenas com o olhar, criando assim uma das poucas cenas memoráveis do filme.
Por fim, France tem seus méritos, mas falha no que mais importa para um filme: nos manter interessados na história que quer contar. Existem aqui bons momentos, mas o que resulta em um todo não ultrapassa a mediocridade.