GRIMMFEST’22 (3/3): The Harbinger, Feed Me, Vesper, Do Not Disturb, Dark Nature e The Lake

O último dia do Grimmfest apresentou uma qualidade superior à do dia anterior, com algumas boas surpresas que podem mesmo aparecer no nosso top de terror anual!

The Harbinger

The Harbinger IMDB

EUA

Atenção que há dois filmes com o mesmo título deste ano! Este The Harbinger fala-nos de Monique que sai pela primeira vez de casa durante os tempos mais fortes da pandemia do COVID para socorrer uma amiga que lhe pede ajuda de forma desesperada. Chegando lá percebe que a amiga está a sofrer com os seus pesadelos e que estes parecem bastante reais e perigosos…

Este é um filme que vai envelhecer fantasticamente. Talvez seja demasiado cedo para alguns. A pandemia ainda está demasiado na nossa mente, há coisas que preferimos não reviver e traz-nos ansiedade. No entanto, tem muito mais a dizer sobre as lembranças que deixamos no mundo – ou o medo de não as deixarmos – do que apenas sobre a pandemia em si (na verdade, faz o paralelismo com esses tempos tão bem que não necessitava de tantas referências diretas, caindo um pouco na exposição e na inserção demasiado forçada desses elementos). Prevejo que a quantidade de sonhos no filme possa afastar também alguns espetadores, mas isto é um filme sobre sonhos (ou pesadelos) e é aí que o filme vive. Pensem em Nightmare on Elm Street e pensem que aqui os medos que nos assolam enquanto descansamos também nos matam. Talvez porque não estamos/estávamos realmente a descansar.

Há muitos outros temas a serem explorados (trauma, família, amigos, suporte, contra-informação, isolamento, depressão…), mas mais importante do que isso, o filme nunca se esquece de ser um filme de terror, com cenas tensas bastante efetivas que me deixaram agarrado à cadeira – a última delas culminando num jump scare brilhantemente eficaz. Mesmo quando tudo parece bem, não devemos baixar a guarda, não devemos deixar de lutar, pois é quando relaxamos que estamos mais vulneráveis. Grande interpretação de Gabby Beans que vai ser uma estrela.

Feed Me

Reino Unido

Feed Me IMDB

Quando já pensava que comédias de terror não eram para mim – não gostei de algumas das mais recentemente elogiadas – finalmente há um filme que prova que gosto do género, embora possa ter um gosto um pouco mais sádico e diferente da maioria do público das mesmas.

É uma comédia negra e não é um filme fácil. A forma como é brutal não só pela violência que coloca em cena mas como retira de cena – de forma chocante – personagens totalmente inocentes não é algo que se veja com muita regularidade no género. Acredito que muitos o vejam como uma obra com dificuldade em equilibrar o seu tom. Acredito que muitos fiquem ofendidos com algumas piadas, ações ou observações, mas, mais uma vez, o que uma personagem diz ou faz não é o que o filme é e muito menos o que os seus autores são. Quando uma personagem má – brilhantemente interpretada, mas má no seu carácter – tem observações machistas, isso apenas diz algo sobre ela, sobre os seus defeitos e de como entende algo normal como uma ameaça. Surpreendeu-me também a produção – que parece muito menos amadora do que temia -, surpreendeu-me o seu guião e o facto de nada se importar em chocar e supreenderam-me as excelentes interpretações de todo o cast.

Há quem pense que assuntos destes não são para ser levados de ânimo leve e que fazer humor disto pode ter efeitos perigosos. Não quero entrar nesse campo, pois não tenho conhecimentos para falar sobre isso. O filme cumpriu o papel que esperava dele: fez-me rir, chocou-me, surpreendeu-me e não se esqueceu do terror. Nem tudo resulta – o 2° ato arrasta-se um pouco e o script parece vaguear um pouco; a cena emocional do filme já perto do final faz pouco sentido depois de nos ter apresentado tão horrível personagem – mas equilibra-se e fecha com nota positiva.

Vesper

França, Lituânia

Vesper IMDB

Vesper tem um ritmo que não é o mais desejável para um filme de ficção científica e confesso que, em certos momentos, dei por mim a vaguear um pouco no meu pensamento. É, no entanto, um filme muito forte a nível visual, com incríveis efeitos visuais e cinematografia para um filme de baixo orçamento. Gostei também bastante da banda sonora, embora tenha tido problemas com a mixagem de som, uma vez que muitas vezes as vozes pareciam um pouco abafadas (efeito Chris Nolan).

Apesar de não ter ido tão longe na exploração do seu mundo quanto eu teria desejado, é um filme que nos deixa saber mais sobre todo aquele novo universo e gostava que o mesmo viesse a ser mais explorado no futuro. Suportado em boas atuações e em bastante reflexões acerca de como tratamos o nosso planeta e como tratamos os outros enquanto sociedade, é um filme que sabe o que tem para dizer, embora nem sempre o faça da forma mais excitante.

Do Not Disturb

EUA

Do Not Disturb IMDB

Este ano todos se lembraram de filmes sobre canibalismo! Do Not Disturb é outro que procura explorar os paralelismos que se pode traçar entre o tema e a toxicidade de algumas relações que acabam por nos consumir.

O filme é todo uma trip. Pegando no conceito de “estás pedrado, não te controlas e nem sabes o que fizeste” leva isso totalmente ao extremo, sendo que o casal principal é completamente tomado conta por isso. No primeiro ato isto é estranho mas resulta. É engraçado, é diferente e apresenta alguma imprevisibilidade. O problema é que quando os acontecimentos passados se começam a revelar o filme tem muita dificuldade em desprender-se do conceito inicial e em desenvolver algum outro tipo de ideia ou de interesse narrativo.

Não sou um grande fã das transições de cena nem da sua insistência em nos mostrar o sol de Miami só porque sim como se isto se tratasse de um episódio de Baywatch. O final é outro enorme problema de Don’t Disturb que parece dar mesmo a ideia de que o seu autor não sabia como terminar esta história, dando-lhe uma conclusão completamente descabida e sem qualquer ponta de verosimilhança possível. Apesar de contar com boas atuações e ter um set-up interessante, nunca explora para além do seu conceito inicial querendo dizer algo sobre pessoas auto-destrutivas e relações tóxicas, mas sendo demasiado óbvio na sua exploração.

Dark Nature

Canadá

Dark Nature IMDB

Dark Nature vale muito das suas personagens e do quão nos conseguimos identificar com elas. Há um interessante exercício de PTSD – é tudo o que este filme é acerca – e há um paralelismo interessante que procura traçar com a situação da nossa personagem principal. Em termos visuais gostei sobretudo do excelente design de criatura e uma componente sonora interessante.

Não é um filme perfeito. O seu maior pecado é o de ser demasiado na nossa cara. Tudo o que quer dizer é por demais claro e há um excessivo número de flashbacks. Há também um conjunto de personagens que tomam decisões…pouco inteligentes. Tudo melhora, no entanto, para níveis aceitáveis quando quer mesmo ser um filme de terror e nos mostra a criatura em acção. O desfecho pode ser controverso, pois talvez tenha ido demasiado longe no paralelismo outra vez, mas a verdade é que naquele momento considero que faz sentido a dupla visão e o duplo acontecimento. Mas como nos é dito no final…o trauma sempre continua.

The Lake

Tailândia

The Lake IMDB

Um filme sobre um monstro do estilo de Godzilla na Tailândia parecia ser algo para mim. Acontece que quase tudo corre mal neste filme.
Vamos primeiro ao que corre bem. O design do monstro. Bom design, convincente quando está parado e nas cenas mais lentas (não em movimento rápido). A atuação da menina, a melhor do elenco, a menos forçada. A banda-sonora não é nada do outro mundo, mas encaixa perfeitamente nas cenas de maior tensão do filme. Algumas cenas inspiradas noutros filmes, nomeadamente a cena no carro que é claramente uma cópia de Jurassic Park mas que até funciona.

O que corre mal? Principalmente um terrível guião. Isto é com certeza um primeiro draft de algo escrito em muito pouco tempo. Viram Jurassic Park, Godzilla, Lake Placid e copiaram quase tudo. O diálogo é péssimo. Nunca parece natural, é repetitivo, acrescenta quase nada ou quando acrescenta é atraves de sobre-exposição, incluindo cenas onde NINGUÉM se lembraria de estar a discutir problemas familiares. Outras coisas que correm mal? A realização que parece não saber o que fazer e a edição. O filme varia de 30 em 30 segundos de cenário e com isso varia também o ritmo da acção. A excessiva utilização da shaky cam também nada acescenta de bom, pois muita vezes nada vemos do que se passa no ecrã. Ainda há espaço para mais críticas negativas? Bem, tenho que referir o excessivo sentimentalismo por todo o lado com cenas a arrastarem-se sem fim (incluindo o estranho final).

Resumindo, isto tinha tudo para dar certo, mas deu quase tudo errado. Mal de mim se falasse bem de um filme em que a criatura emite um som que estremece toda uma sala de cinema mas que só é vista ou ouvida pelas pessoas quando está a meio metro delas. Mal de mim seria acreditar que numa situação do género, a população iria comportar-se daquela forma, com muitos a fingir que correm e a maioria a andar nas calmas. Invistam em bons guiões!

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