James Gunn (argumentista e realizador) prometeu emoção, e entregou. Guardians of the Galaxy Vol. 3 (Guardiões da Galáxia Vol. 3) é o fim da trilogia mais carismática do universo Marvel, que com muita ação, criatividade e comoção, encerra com dignidade a jornada do grupo de heróis mais bestas e divertidos da galáxia.
Guardians of the Galaxy Vol. 3 tem um tom mais sombrio que os dois primeiros filmes da equipe, e este clima obscuro é destacado já na cena inicial do filme. Com um flashback, visitamos o passado de Rocket Raccoon (Bradley Cooper) em uma cena regida por muita tensão e bem utilizados toques de terror, que denunciam os horrores vivenciados pelo guaxinim em sua juventude. Em seguida, voltamos para o presente, e encontramos nossos protagonistas em uma sequência musical colorida e engraçada, como já estamos habituados, mas orquestrada por um cantar deprimido de Thom Yorke em uma versão acústica de Creep, da banda Radiohead. E então, de abrupto, James Gunn põe o pé na porta com uma violenta cena de ação de tirar o fôlego, que leva todas as personagens ao limite, e cujas consequências as forçam a ingressar em sua última grande jornada como equipe.
Em poucos minutos, Guardians of the Galaxy Vol. 3 nos prepara para o que está por vir: uma obra cheia de cores, humor e ação, conduzida por um enorme senso de urgência que garante ao filme constantes tensão e emoção. Desta vez, sentimos o perigo no ar. O ambiente é de ansiedade e medo. Os Guardiões da Galáxia têm pressa, e o filme também. Ninguém pára por muito tempo, tudo é para já, o mais rápido o possível. E isso tudo garante ao Vol. 3 um ritmo acelerado que pouco nos deixa respirar aliviados.
Entre constantes saltos no tempo, viajando entre o duro passado de Rocket e o desesperador presente, o filme tem a difícil, porém bem-sucedida, missão de fazer rir. James Gunn é um excelente argumentista de comédia, e Guardians of the Galaxy Vol. 3 faz jus aos divertidíssimos dois primeiros filmes da trilogia. Porém, devido às situações extremas em que os Guardiões estão metidos, acaba sendo complicado achar graça nas tentativas frustradas das personagens de aliviar a situação com seu senso de humor besta. Até mesmo as gargalhadas mais orgânicas engatilhadas pelo texto afiado de Gunn saltam da garganta com dificuldade. Mas, apesar disso, o humor funciona. E funciona, pois James Gunn tem total controle das personagens que desenvolveu com a Marvel, e as conhece muito bem. Sabe que elas têm a comédia como válvula de escape, e que isso as ajuda a crescer dentro da tela. Dentro de cada piada, retrucada e desentendimento bem-humorado entre as personagens, é perceptível o pesar e a insegurança que envolve a todos e infecta o filme como um todo.
O texto e a realização de James Gunn são invejáveis. Desde o primeiro Guardians, lá em 2014, até hoje, 2023, com a estréia do Vol. 3, Gunn me surpreende com seus filmes. Depois de muito consumir suas obras, vou ao cinema com certa ideia do que esperar, e mesmo assim acabo saindo da experiência encantado com o inesperado. James Gunn tem muita criatividade. Seja em seus diálogos, nas situações inusitadas que cria, nos ambientes complexos que desenvolve, nos artefatos e bugigangas de funcionalidades inventivas, ou na forma que ressignifica personagens já existentes e os trata na tela do cinema. James Gunn sempre percorre caminhos cativantes com suas tramas, que instigam nossa imaginação, e estimulam nossos sentidos com todas as informações, ruídos e cores que injeta em seus filmes.
Além disso, tem sua sensibilidade. O realizador traz muita complexidade emocional para suas personagens, e Guardians of the Galaxy Vol. 3 é o ápice disso. Os Guardiões fecham, individualmente, os seus arcos muito bem aqui. Todos têm sua chance de brilhar. Todos têm suas relações para com os outros, e consigo mesmos, postas à prova. Todos evoluem com sua árdua e ingrata jornada. James Gunn criou personagens muito únicos, cheios de particularidades bobas que servem muito bem ao humor. Porém nenhuma dessas particularidades é gratuíta, fazendo completo sentido com quem essas personagens são, e isso fica muito mais claro ao fim de toda a sua jornada.
Os vilões da vez funcionam muito bem. O poderoso Adam Warlock (Will Poulter) é um pouco subutilizado, mas sua inocência e imaturidade rendem boas risadas, e seus poderes têm um potencial para a ação que serve como grande catalisador para o tom de urgência do filme. Quanto ao Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji), que ser detestável! O geneticista obcecado é um oponente digno do tamanho dos Guardiões, composto por uma personalidade explosiva e ameaçadora muito bem sustentada pela atuação de seu intérprete.
Entretanto, entre diversas personagens excelentes, o maior destaque fica com Rocket Raccoon. O guaxinim genial é, assim como havia afirmado James Gunn em pronunciamentos posteriores sobre o filme, o coração de Guardians of the Galaxy Vol. 3. Rocket está diretamente relacionado ao grande vilão do filme, o Alto Evolucionário, que é, por sinal, quem fez dele o que ele é: uma cobaia de experimentos genéticos. Em paralelo à jornada desesperada dos Guardiões, acompanhamos o perturbador passado de Rocket, conhecendo toda a angústia e sofrimento que o guaxinim cabeça quente passou em sua juventude. O arco de Rocket é dolorido e revoltante, repleto de violência física e emocional. Poder conhecer sua história é o ponto alto do filme. É necessário para que o entendamos por completo. É essencial para fazer dele o grande protagonista que clamava ser desde sua primeira aparição nas telas do cinema, e para o enxergarmos como a linda personagem que é.
Guardians of the Galaxy Vol. 3 é obscuro. Ainda temos aqui muito humor e música, é claro, mas a tensão reina durante todo o filme. E toda esta intensidade leva as personagens a um desfecho comovente, um adeus à altura de toda a jornada dos Guardiões da Galáxia. Arcos são encerrados, despedidas são feitas, novos laços são criados e, no final, todos nos emocionamos. James Gunn encerra sua jornada na Marvel com louvor e muito carisma, e fecha, com esse excelente filme carregado de fortes emoções, esta que é a melhor e mais concisa trilogia já produzida no MCU, quiçá no cinema de super-heróis!
