Todos nos lembramos de grandes sucessos da Disney, certo? Agora, lembrem-se lá de quantos desses grandes sucessos foram originais em live-action? Não, não falo de filmes de animação refeitos em live-action. Falo de originais de sucesso. Pois, há muito que a Disney procura o seu novo Pirates of the Caribbean que inicie uma franquia de sucesso para muitos anos. Já se passaram 20 anos desde que vimos Jack Sparrow pela primeira vez e a Disney volta a procurar semelhante sucesso com Haunted Mansion, gastando para isso $160M de dólares na segunda produção que tenta o sucesso desta história baseada numa atração (tal como Pirates) do seu famoso parque de diversões. E, coincidentemente, o anterior, com Eddie Murphy no papel principal, também chegou em 2003, o ano dos tais piratas!
À vista de todos salta logo o enorme e forte elenco deste novo filme. LaKeith Stanfield e Rosario Dawson dividem o protagonismo principal, mas atentem ao elenco secundário: Owen Wilson, Tiffany Haddish, Danny DeVito e ainda prestações de Jared Leto, Winona Ryder e Jamie Lee Curtis! Um absurdo de talento à disposição de Justin Simien, homem por detrás do sucesso de Dear White People. Na história, Gabbie (Rosario Dawson) é uma mãe solteira que se muda para uma enorme mansão e cedo se apercebe que a mesma está assombrada. Aí chama um ex-investigador paranormal, Ben (LaKeith Stanfield), para resolver o problema, mas o próprio percebe necessitar de ajuda extra, sendo reunida uma equipa que inclui um padre, uma vidente e um professor de história.
Haunted Mansion procura abranger vários tipos de audiência, incluindo os mais novos, e isso nunca é uma tarefa fácil. Nunca poderia ser um filme demasiado assustador por esse motivo e nunca poderia ser demasiado adulto nas componentes cómicas exatamente pelo mesmo motivo. Por outro lado, necessitava de ser inteligente nas suas referências e na condução da sua história para agradar ao público mais velho. O problema é que esta tentativa de agradar a gregos e troianos, pelo menos a este adulto aqui, não agradou. Salvo algumas poucas gargalhadas, o humor foi demasiado seco, demasiado insistente e tudo atuado de uma forma que faz parecer que existe uma plateia à frente do elenco, pronta para rir a cada segundo. Aqui muito culpo também a edição do filme, que parece seguir uma tendência atual de utilizar gags de forma tão tática e tão cronometrada que não consegue despoletar genuínas reações. Quando ainda procuramos interiorizar a piada anterior, já estamos a ser atingidos por mais ondas de piadinhas secas.
Tematicamente, o filme faz coisas interessantes (sim, outro filme sobre luto) e até tem boas cenas quando deixa as suas duas personagens principais respirar e crescer com os seus sentimentos. Não tenho qualquer dúvida: esta dupla de atores foi bem escolhida! O problema não está aí, pois eles muito tentam e muito fazem para parecer que este guião é melhor do que é, mas o mesmo não passa de uma absurda confusão que parece mais preocupado com a reação da audiência do que com o produto em si. Sabem aquele amigo que fica a olhar para vocês, com cara de parvo e de psycho, enquanto vocês desembrulham a prenda que ele vos ofereceu? Sim, ele é este filme.
A nível visual o filme cumpre com o que é pretendido. Fica difícil saber onde foram gastos tantos milhões – provavelmente, uma grande parte no elenco – mas os efeitos são bobos e infantis como deveriam mesmo ser. A nível sonoro, sempre presente está uma irritante e pouco entusiasmante banda-sonora que nos faz lembrar que isto poderia muito bem ser um filme feito diretamente para a tv ou para a Disney+ ou o que lhe queiram chamar.
Acima de tudo, Haunted Mansion nunca me entusiasmou. É sempre difícil fazer uma comédia de terror e mais ainda quando ela deve atrair vários tipos de audiência, dos 8 aos 80 anos. A maioria das piadas são demasiado básicas e pouco inspiradas e a tensão nunca chega a existir num filme que é demasiado longo para o que tem para nos mostrar. O elenco é excelente, há alguma química e apenas eles e elas permitiram que eu quisesse ver isto até ao final.