Heon-teu (ou a caça pelo blockbuster fora de era)

O cinema asiático comete muito poucos erros. Ou então sofro do mesmo que me acontece quando oiço a M80: só consumo do melhor que têm para oferecer e não estou sujeito à mediocridade. Heon-teu não é baluarte do cinema asiático nem pretende sê-lo. Mas representa a sua origem com solidez.

Narrativa de espionagem em volta da velha questão das Coreias.

Tom de Bourne. Mas só o tom. E não tem mal nenhum. Acção realista de combate corpo-a-corpo. Acção de blockbuster com trocas de tiros, explosões, perseguições e despistes.

Ritmo cavalgante do desenvolvimento da história. Diálogos directos e sem muito espaço para subjectividade.

Grão na filmagem e filtro amarelecido/acastanhado. Nada de inovador ou ambicioso nas sequências ou planos.

Banda-sonora tensa e que suporta os desenvolvimentos e acções. Nada de imersivo ou abstractivo.

Este é um filme de história. É um filme sóbrio e com princípio, meio e fim. Algo acontece, alguém fez acontecer, alguém tem interesse no que aconteça ou não aconteça, alguém procura saber quem fez acontecer, alguém tenta impedir ser descoberto. É isto. Não é mau nem é bom. Faz deste filme, um filme normal.

Mas há um diferencial.

Há um mercado que entendo ter sido subvertido do que era pela indústria americana, com ideias ridículas polvilhadas de CGI e empanturradas de esta ou aquela estrela de A-list para vender: o blockbuster.

O blockbuster puro e duro. Não falo da era apoteótica de Spielberg que explora o que é o filme de pipoca que se eleva disso (Minority Report, Jurassic Park, Raiders of the Lost Ark). Falo da era dourada do blockbuster de acção ou frenesim das décadas de 80 a 90. Aquele tipo de filme que é feito para entreter e assistir a aventura ou enredo ao estilo montanha-russa e que no fim fecha o que abriu ao início.

Heon-teu tem dessa aura. Acho que tem desse propósito. E entendi que cumpriu muito bem.

Não há grande reflexão a ter sobre Heon-teu nem uma conclusão iluminada. Há uma ideia de que o blockbuster está vivo e de boa saúde desde que haja vontade e competência para o entregar ao público.

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