Hustle (ou como comprimir uma tonelada de coração numa refeição leve)

Quase chorei. Ri muito. Identifiquei-me enquanto fã do pano de fundo. Assim, Adam Sandler acertou e a Netflix também.

Adam Sandler já fez de tudo no cinema. Tudo desde o bom e mais obscuro como o péssimo e altamente promovido. Terá sido então necessário esse percurso para que Sandler finalmente entendesse onde consegue estar o mais natural possível com a maior qualidade possível? A resposta está na pergunta.

Mas como todos temos vida, faço-vos o lay-up para afundarem na conclusão deste pensamento ao convidar-vos a ver Hustle. Sandler é um fanático por basketball. Eu sou forte fã embora não tão dedicado quanto poderia ser, não fosse a melhor liga do mundo jogada em horário impróprio para o fuso português e os cerca de 80 jogos da fase regular. Bolas por bolas, estou bem entregue com futebol, apesar de não ter de ser apenas muito fã de uma coisa para ser fã dessa coisa e de não mais nenhuma outra. É como gostar dos filmes de Adam Sandler. Não tenho de tolerar essa vaca-sagrada chamada de Punch Drunk-Love para poder adorar incondicionalmente Big Daddy.

E pego neste último citado para desdobrar Hustle. Big Daddy (1999) tem ternura mesclada de comédia semi-inofensiva. Há um sujeito que tem a sua vida para resolver e tentar fazer sentido quando se depara com a monumental tarefa de criar um filho e com isso descobrir-se a si mesmo, tentando ensinar alguma coisa à criança e também dando amor, atenção e ligação emocional.

23 anos volvidos, dê-se uma bola de basket à criança agora com 22 anos, dê-se maturidade e sabedoria por cima dos apesares da vida ao proposto pai, encontrem-se os dois e ultrapassem-se os obstáculos para o objectivo em comum e o resultado é Hustle.

Este filme tem coração à tonelada. Enternece muito e Adam Sandler está fantástico a conferir essa emoção, bem como cortando-a em doses digeríveis com piadas que genuinamente eu entendi estarem a sair da sua personagem Stanley Sugerman em vez de mais uma vez Sandler a ser Sandler com o nome de outro tipo qualquer.

Juan Hernangomez que interpreta o co-protagonista Bo Cruz não é bom actor, mas cumpriu muito bem o que lhe fora pedido.

Aqui reparto os louvores entre ele e a direcção de actores que corajosamente:

– optou por seleccionar um jogador de basket a quem pudessem ensinar a representar em vez de um qualquer actor alto que pudesse ser substituído por um duplo qualquer;

– optou por conferir a esta personagem a etnia caucasiana, não recorrendo ao evidente atalho de seleccionar o prototípico jovem negro que gosta de driblar e encestar, com dom atlético inato, mas com adolescência nebulosa que tem de ultrapassar para se encontrar e tal.

Queen Latifah merece louvor por ser o grilo-falante desta história. Não se estica mais do que o seu papel pede, não puxa para baixo os momentos em que aparece e mostra-se multifacetada por cada energia diferente na mesma cena ou em cenas diferentes.

O filme é bem filmado, tem o seu princípio, meio e fim bem arqueados, sem tropos gritantes de drama e sem demasiada crueza de vida para batalhar e encarar. Há uma narrativa, nessa narrativa há adversidade, é conferida a capacidade de superar essa adversidade por meios realistas e concebíveis e no fim, para pontuar esta história feel-good, a coisa acaba a fazer-me sentir bem.


Hustle
Hustle: O Grande Salto

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 117 min.

REALIZAÇÃO: Jeremiah Zagar

ELENCO: Adam Sandler, Juan Hernangomez, Queen Latifah

+INFO: IMDb

Hustle

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