Hypnotic hipnotiza-nos com a sua apatia

Robert Rodriguez é um realizador que até admiro. From Dusk Till Dawn, El Mariachi, Desperado, The Faculty, Sin City, Planet Terror e até Machete são obras que ficam muito bem em qualquer colecção. Normalmente, os seus filmes – mesmo quando não excelentes – entretêm. Portanto, era natural ter algumas expectativas para um thriller de ficção científica com Ben Affleck a encabeçar um elenco que ainda conta com Alice Braga, JD Pardo e William Fichtner como vilão. Vou direito ao assunto: durante a grande maioria do tempo, isto é um desastre. Não daqueles desastres em que todos os outros automobilistas páram para ver. Não, um despiste aborrecido. Sem testemunhas. Ou, pelo menos, assim deveria ter sido. 

Infelizmente, eu estava no cinema para testemunhar um primeiro ato fraco que até começa com uma interessante cena de abertura de assalto a um banco. Aqui vemos alguns dos poderes destes tais hipnotizadores que são capazes de entrar na mente de outras pessoas obrigando-as a fazer o que estas não querem. Desde logo, sabemos também que a personagem principal, o detetive Danny (Ben Affleck) passou por um traumatizante acontecimento há uns anos, no qual a sua filha foi raptada enquanto estava a seu cargo. Boas premissas, ideias interessante, uma mão cheia de nada e um enorme bocejo. A fotografia escura e pouco inspirada do filme não ajuda muito a que nos entusiasme. Nem a composição sonora repetitiva – e sempre presente – que parece querer, ela sim, hipnotizar-nos e colocar-nos num sono profundo. Sono esse que certamente falta a Danny. Só assim se explica que Ben Affleck viva a personagem com tão pouco entusiasmo, quase parecendo fazer um favor em ter aparecido no estúdio para filmar isto. E eu percebo-o. 

Percebo-o porque o guião deste filme só desenvolve para algo minimamente interessante no terceiro ato. No início desse ato há uma revelação surpreendente que resulta e isso entusiasma-nos, apesar de vir tarde demais. Daí para a frente ainda insiste em mais revelações – nenhuma com o impacto da referida – mas já havia pouco a fazer. É impossível esquecer o que se passou durante quase uma hora de filme. Quase nada ali resultou. Setpieces desinspiradas, cenas copiadas descaradamente de outros filmes (Rodriguez pensou que para ser Nolan basta copiar Nolan) e um ritmo totalmente errático. 

Os efeitos especiais até estão bem conseguidos – pudera, isto é um produção de $65M! – mas nada vai ficar especialmente na retina porque tudo o que faz com esse dinheiro já foi feito antes por outros filmes. As cenas de combate, por exemplo, são muito desinspiradas, safando-se apenas o (previsível) combate final. Fichtner é um vilão bem abaixo do que sabemos que ele pode dar e apenas Braga parece esforçar-se para tentar salvar um filme que se acha mais inteligente do que aquilo que é. 

Em suma, Rodriguez quis ser Nolan e Hypnotic é um filme que tem um conceito interessante, mas falha em quase tudo até ao seu último ato. Odeio quando filmes têm um elenco destes, têm boas ideias de base e depois tudo desperdiçam com uma execução desinspirada e aborrecida, limitando-se a parecer cópias baratas de obras consagradas. No terceiro ato as coisas melhoram, mas já não havia salvação.


Hypnotic

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 93 minutos

REALIZAÇÃO: Robert Rodriguez

ELENCO: Ben Affleck; Alice Braga; JD Pardo; William Fichtner

+INFO: IMDb

Hypnotic

Previous ArticleNext Article

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *