Travis Taute realiza, Jarrid Gedould corre e pula, o espectador suspende a descrença até ser demasiado tarde indignar-se pelos pecados que são cometidos.
Acção muito bem coreografada, com segmentos de pouca edição e distância perfeita para que se entenda o que está a acontecer nas lutas e outras acrobacias.
Banda-sonora que encaixa muito bem nos diferentes tons que o filme pretende invocar: emoção sensível e emoção hormonal.
O enredo é simples e já foi feito. Um sujeito dá por si numa situação à qual é completamente alheio e que o envolve num quadro muito maior que a sua compreensão. E o primeiro pecado-capital é cometido aqui. Porquê ele? O filme literalmente diz e que parafraseio: “és o candidato ideal, foste alvo disto mas para outra coisa.” Que coisa é? Nunca é dito e é chutado para canto tão rápido quanto o dispositivo ex-machina foi racionalmente introduzido nessa cena em particular.
Este pecado irritou-me particularmente porque até aqui entrei e aceitei de bom grado a suspensão da descrença por todas as particularidades e felizes coincidências de personagens e as suas características e interacções, até me sentir completamente defraudado.
Isto fez-me lembrar imenso aquela ex-namorada. Julguei todas as suas acções, atitudes, reacções e omissões como normais, por estar enamorado, iludido e satisfeito. O filme, tal como ela, fez as coisas bem. O ritmo é óptimo, as decisões do protagonista são racionais e a prestação de Jarrid Gedould como sujeito psicologicamente desequilibrado, que pelo caminho tem de se agarrar com todas as forças ao metafórico cortinado na janela do 17º andar do hotel para prosseguir com o seu súbito propósito que sustenta essa nesga de sanidade, são um afrodisíaco entorpecedor do bom-senso para segui-lo na sua viagem.
O outro pecado-capital foi a mão-cheia de nada que devolve muito pouco ao protagonista quando este resolve o quesito em mãos e se vê resolutamente na posição de se reavaliar e tratar a sua psique, finalmente pelo seu bem e motivado a estar presente para o seu filho. Aqui lembrei-me do horrível sabor a bílis emocional que durou durante meses depois de ter arrotado dessa tal relação que me satisfez em vastos repastos de luxúria e percepcionado amor para com aquela vagabunda.
O que o filme faz bem tem de ser destacado, tal como na relação existiram momentos incríveis. Não perdoo o que o filme fez de mal, pelo que essa relação me fez reavaliar em mim e poderá ter deixado mal curado.
Indemnity significa indemnização. Sinto que fiquei prejudicado ao ter-me sido indemnizada disponibilidade e expectativa para com este filme, como um dos mais esperados por mim este ano. É este o preço a pagar. Quando se gosta da ideia projectada de algo, por contraste a apreciar esse algo de forma pura e inadulterada, no fim sai-se queimado. Resta entornar aí o copo meio-cheio que o filme oferece.