Infinite entra na categoria de filmes com apenas uma palavra no título com contornos de misticismo, ficção científica e que nos dá o que pensar, temperados com acção… que não são a franquia Matrix. Não é nada deplorável. É bastante divertido no conceito e execução, mas fica aquém por querer envolver-se como blockbuster de acção e um tanto mais, sem querer arriscar.
Equilibrium, Wanted, Underworld são exemplos de qualidade do referido acima, sendo que estava com expectativa criada pela dupla Antoine Fuqua como realizador e Mark Whalberg como protagonista uma receita comprovada de sucesso conforme demonstrado em Shooter e pelos sucessos individuais destas duas entidades independentes. Antes de desenvolver porque me desiludi por ter expectado, permitam-me assinalar o que gostei e provavelmente me levaria a pontuar não mais que 3 estrelas, se não tivesse este filme como um dos que escolhi como mais esperados de 2021.
A premissa é simples de entender e assimilar, tem o nível abstracto profundo o suficiente para gerar dissertações existenciais ou a estrutura densa e suave de Mar Morto que nos permite boiar por esta curta entrega de 1h46. Há claramente pernas para desenvolver um franchise quase infinito pela natureza recursiva e inteligente da tese apresentada, que permite recontagens e novas abordagens por qualquer estilo cinematográfico sem que descure jamais o ingrediente de acção que entendo que tem de ser a cola a isto tudo, para não gastar a fórmula.
Chiwetel Ejiofor é a verdadeira estrela deste filme. Este é o vilão que mais gosto para filmes de pipoca que me entretenham e não pretendam mudar a minha vida sensorialmente. Vejo pragmatismo remissivo de Hans Gruber (Die Hard) pela inteligência, intelecto, força, autoridade, objectivos e execução. Chiwetel é intenso, físico, mental, ambicioso e com senso de missão acima de qualquer consequência. Sozinho, este senhor confere metade da cotação que tenho para dar.
Outra menção de louvor é para a utilização de efeitos especiais práticos que preenchem muito melhor a tela que os perceptíveis momentos de animação digital em sequências de acção, onde o tombo foi muito maior que o esperado de um filme de 2021.
Mark Whalberg promete imenso na introdução da personagem para descer a pique, não por culpa sua, pois agora a roçar as bodas de ouro para cinema de acção, teve um à-vontade nos diálogos que não me lembro de assistir no seu passado recente. A personagem é que me arrelia porque podia ser tão mais desdobrada, até em multi-filme, mas torna-se o último herói da terra porque sim, sem questionar, sem desafiar a tese metafísica/científica que lhe é entregue em fogacho, aceitando de caras a loucura aparente e que não consegue compreender pois por toda a sua vida foi diagnosticado como esquizofrénico, portanto logicamente, esse sub-conflito entre o que é real, o que seria a sua patologia e o que é a então verdade mágica fica muito em sacrifício para detrimento do desenvolvimento dos actos e manutenção de ritmos.
Há falhas quase irremediáveis na narrativa deste filme em si, a mais que na lógica de fundo em que se este se baseia: os momentos que gosto de chamar “se esta acção não acontecesse/fosse logicamente diferente, não haveria mais filme”. Leva a proverbial palmada no rabo por se apresentar como mero filme de acção. Mas estou atento. É indesculpável. Tem possibilidade franca de melhoria. Agora dependerá do retorno financeiro que consiga criar, a ponto de merecer aposta, mas não a ponto de ludibriar os estúdios e produtores a entender que correu bem e tem de ser repetido. 2,5 estrelas.