A violência e o seu significado em Infinity Pool

Em 2020 um tal de Possessor era lançado sob fortes elogios da crítica que o considerou um dos melhores filmes de terror do ano. Com uma mistura de suspense com aquilo a que nos habituamos a chamar de elementos Cronenbergianos não foi demasiado surpreendente perceber que Brandon Cronenberg tinha ido buscar mais do que o apelido ao seu pai, o reputadíssimo David Cronenberg. Confesso que, na altura, não fui um dos maiores admiradores do filme, mas, depois de Infinity Pool, talvez seja hora de lhe dar uma segunda oportunidade. 

Esta é uma história mais simples e direta do que a de Possessor. Aqui Cronenberg filho fala-nos de um casal que vai passar uns dias de descanso a um resort. Na verdade, nada parece bem um descanso e a maior razão pela qual aqui estão é porque o homem – James (Alexander Skarsgård) – procura reencontrar a inspiração e confiança para voltar a escrever. A sua esposa, Em (Cleopatra Coleman), é quem, basicamente, sustenta o casal e isso acaba por criar uma dinâmica própria e explosiva. No que parece um encontro casual, James acaba por criar uma conexão com Gabi (Mia Goth) que também está no complexo de férias com o seu marido. A chama entre ambos é fascinante desde o primeiro momento e pouco parece importar – a ambos – que os seus esposos estejam também ali presentes. Depois de um encontro entre casais, o álcool prega uma partida a James e um mortal acidente acontece. A partir daí, o fime assume as características de quem o escreve e o realiza e podem muito bem esperar elementos de ficção científica, sangue, loucura e algumas inesperadas e complexas situações.

Infinity Pool é um filme extremo. Foi assim que foi vendido e a violência que apresenta no ecrã não é própria para espectadores mais sensíveis. Ainda assim, confesso que gostava que tivesse ido um pouquinho mais longe na sua fase de loucura – o seu segundo ato -, uma vez que me parece o mais intrigante e o que é talvez menos trabalhado, principalmente no que diz respeito às interrogações metafísicas que nos coloca. O que é apresentado é, ainda assim, sempre interessante, sempre misterioso e cativante o suficiente. Muito disso se deve ao conceito, sim, mas grande parte se deve também às duas principais atuações. Alexander Skarsgård intrepreta perfeitamente o homem confuso em relação ao seu papel, quer na sua relação quer na sociedade, questionando – sem precisar de o dizer – o quão másculo ele é em toda esta equação. A masculinidade está presente em quase todas as suas interações e muito o filme nos quer dizer sobre quem ele se sente em relação a si próprio. Ainda assim, a estrela é, sem surpresa, Mia Goth. A atriz que já dominou o terror em 2022, volta em força, sendo capaz de dominar o ecrã cada vez que aparece em cena, com uma personagem que transmite sedução e perigo em igual medida, sempre capaz de cometer a maior loucura e sempre capaz de convencer James que é ao seu lado que ele está bem. Ao contrário de James, não é assim tão fácil ler Gabi e as suas intenções e isso é um dos pontos positivos do guião que Goth sabe como apresentar em cena.

A forma como o filme se desenrola e os caminhos pelos quais opta talvez não sejam sempre os mais adequados e pode, por vezes, saber a pouco. De qualquer forma, é sempre refrescante ver no ecrã algo diferente e que tem a sua própria aura e identidade natural. Apesar dos excessos, Infinity Pool raramente parece gratuíto na forma como apresenta a sua violência ou sexo. Há sempre algo que quer dizer, seja acerca da situação, das personagens em causa ou mesmo de uma sociedade que se divide entre aqueles que pouco podem fazer e aqueles que tudo podem fazer, pisando quem quer que seja pelo caminho. Esteticamente e a nível sonoro é também um filme muito equilibrado e bem conseguido, transportando-nos facilmente para uma realidade que, por várias vezes, se confunde com uma ressaca, com um sonho ou com os efeitos de uma droga psicadélica. 

Em suma, Infinity Pool não vai tão longe quanto gostaria, mas é sempre interessante e tem sempre algo a dizer, seja sobre o ego masculino, sobre os nossos papéis na sociedade ou sobre a forma como ricos e pobres se dividem até no crime e suas consequências. É chocante e sexy em igual medida e isso em muito deve a Mia Goth que, mais uma vez, domina o ecrã. 


Infinity Pool
Infinity Pool

ANO: 2023

PAÍS:

DURAÇÃO: 117 minutos

REALIZAÇÃO: Brandon Cronenberg

ELENCO: Alexander Skarsgård; Mia Goth; Cleopatra Coleman; Jalil Lespert

+INFO: IMDb

Infinity Pool

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