A premissa é simples. Acompanhamos o desenrolar de um homem que fica preso numa casa na sequência de um assalto correr mal.
Isto tem tudo para ser pretensioso, mas Dafoe não deixa. Isto é arte pelo bem da arte e não por causa da arte.
Uma viagem hermética com o ambiente como antagonista (Final Destination), com arte como pano de fundo (Velvet Buzzsaw) e um protagonista a carregar o filme às costas de ponta a ponta (Locke, Castaway) fazem de Inside algo como um workshop de dramatização.
Willem Dafoe não precisa fazer mais do que já comprovadamente mostrou saber para que a sua personagem (Nemo) não enjoasse de aparecer nem agisse prepotentemente ilógica pelo desenrolar dos acontecimentos.
Tudo é bastante expectável, entendível, compreensível e casuisticamente palpável.
Até ao final do filme fiquei a coçar a cabeça sobre do que se trataria mas na verdade, tirando alguma exploração de personalidade e estado mental de Nemo, por via da edição, som e comportamentos, concluí no fim o que é óbvio de entender e que me aliviou, de certa forma em ter entendido: o filme é sobre um tipo preso numa casa por um tempo anormal, isolado, e que deixa que o ambiente de peças de arte provocadora lhe penetrem na psique, exacerbando o que pensa, sonha, como age e do que procura escapar-se à medida que o tempo, a falta de recursos e a esperança na fuga definham e o fazem definhar.
Há um ou outro plano e/ou sequência que são arrebatadores, mas nada que desafie, inove, agite ou espicace.
Deverá haver simbolismo à tonelada, mas deverá ter-me escapado pois o estado mental ao ver este filme ou não apresentou receptividade ou toldou o possível tacto a mais que deverá, quiçá, ser necessário para absorver e interpretar tal simbolismo.
A única coisa que me saltou mais à vista poderá ser a alegoria à Evolução em que o símio se depara com certos recursos imediatos para a sua subsistência e que, findos tais, tem de se desenrascar com o que não é aparente mas, por via da aprendizagem, tentativa e erro e, por consequência, o crescimento de processos instintivos para lógicos, aprende a mover-se nas entrelinhas do que tem para fazer sentido do que precisa ter.
Fora isso, assumo novamente a inocência pelo custo ou falta de vontade em tentar ver o que há para ver, mas não é de caras oferecido de bandeja para ser visto.
Talvez seja essa mais uma camada de Inside. O que está por dentro de quem seja espectador disto fará com que a interpretação disto por si só seja dotada ou carente de alguma multiplicidade da perspectiva do espectador.
Talvez seja esta a magia de Inside. Ao reflectir sobre o que escrever para ter onde me agarrar e desenvolver texto para esta crítica me faz verdadeiramente observar ad posthumus o que vi.
Talvez tal como a marca temporal é detrimental para o desenrolar deste filme, também o período de maturação e pousio são de carácter obrigatório para tecer pensamentos relevantes e consistentes com o que ache que o filme mereça de mim.
Não obstante, são demasiadas interrogações que este filme de premissa aberta mas narrativa fechada me deixam e não me pergunta nem responde para que veja nisto uma obra avant-garde ou uma pia cheia de merda.
Fez o que de primordial se pede de um filme: inibiu-me da realidade, e só por isso, apesar de o tema ser o interior, só posso agradecer por não me ter deixado deambular no meu por cerca de hora e 45 minutos de rodagem.