Adoção, identidade e pertencimento têm sido temas recorrentes em filmes que tenho criticado aqui para a Fala Visual este ano. E, por mais que adore apreciar um belo e denso drama sobre tais assuntos, devo admitir que é um alívio assistir a Joy Ride, uma comédia hilária, repleta de baixaria e exageros muito bem-vindos!
Audrey (Ashley Park), uma advogada asiático americana adotada, viaja até a China acompanhada de Lolo (Sherry Cola), Kat (Stephanie Hsu) e Deadeye (Sabrina Wu), também decendentes de chineses, para fechar um negócio internacional e tentar encontrar sua mãe biológica.
O enredo de Joy Ride é simples, mas não são precisos muitos minutos de rodagem para se perceber que a proposta do filme é abusar do absurdo para fazer rir. Joy Ride não teme exagerar para criar cenas cômicas ridículas, e trazer desfechos estúpidos para seus arcos narrativos, que ultrapassam as barreiras do nonsense e desafiam descaradamente a suspensão de descrença do seu público. É difícil crer em muito do que acontece no filme, mas, sinceramente, Joy Ride faz do absurdo uma arma potente, e diverte tanto com isso, que só posso agradecer ao filme por apostar se desprender do total sentido.
Entretanto, por mais que tenha dado muitas risadas, não foi sempre que o humor de Joy Ride me convenceu completamente. Algumas das piadas do filme parecem forçadas demais, e soam como se as personagens nos dessem uma cotovelada de leve no braço, tentando convencer o público a rir de suas piadas mal executadas. Talvez tais tentativas falhas de humor sejam resultado de falta de timing da edição ou da realização. É difícil apontar um “culpado” para a fragilidade do longa, uma vez que, na maior parte de Joy Ride, tudo funciona muito bem.
Senti, porém, que a maioria das piadas que não funcionam vem da personagem Deadeye. A atriz, Sabrina Wu, manda mal em sua representação? Não, pelo contrário. Wu entrega muito bem o papel de fã de K-Pop esquisita. Mas, como já disse, não é fácil decifrar o que realmente falta para que tudo funcione perfeitamente. Muitas de suas piadas surgem sem necessidade, sobrando em muitas cenas, chegando fora de timing, e gerando certo desconforto. Talvez a realização não tenha compreendido a personagem por completo, ou seu potencial cômico. Ou, talvez, eu simplesmente não divida o mesmo senso de humor com a realizadora Adele Lim.
E por tocar no elenco, é aqui que se encontra o ponto mais forte de Joy Ride. As quatro amigas viajantes são ótimas e conquistam fácil. Todas as atrizes se encaixam muito bem em seus papéis, convencendo muito com sua dinâmica em grupo, garantindo bastante química entre si. Mas há, todavia, uma personagem de destaque: Lolo. Sherry Cola esbanja carisma com sua artista desbocada. Lolo é barulhenta, espontânea, inconveniente e muito, mas muito safada! É ela quem provoca as demais a expor e extravasar sua sexualidade, garantindo ao filme muita diversão e baixaria, e às suas amigas, uma viagem repleta de caos, é claro, mas também de muito prazer.
Entretanto, Joy Ride é, apesar de todo o humor, um filme sobre busca por identidade. Onde o filme funciona mesmo é na comédia, mas Joy Ride entrega bons momentos de emoção. O espaço reservado para o drama no filme é breve, mas profundo e significativo o suficiente para fazer valer o investimento na jornada de Audrey e suas amigas. Então, quando resolvidas suas questões mais profundas, o longa decide solucionar os dramas envolvendo amizades, e cai de cabeça na breguice. O desfecho com declarações públicas é de brochar qualquer um depois de uma sequência de conclusões bonitas de arcos profundos, mas, depois de tanta diversão, está tudo bem. Uma cafonisse no encerramento (quase) nunca faz mal a filmes de comédia.
Joy Ride é hilário. Acompanhar o quarteto de amigas em sua viagem de autoconhecimento, absurdos e muita safadeza, é verdadeiramente prazeroso. E que elenco! Ashley Park, Sherry Cola, Stephanie Hsu e Sabrina Wu brilham muito com todo seu carisma e energia caótica. Sexo, drogas e risadas é o que Joy Ride tem a oferecer, e infeliz é aquele que ousa negar seu tempo ao filme.