Jurassic World: Dominion – Estúpido, mas entretém

Jurassic World é uma trilogia muito diferente da trilogia original de Jurassic Park. É difícil comparar eras, embora seja seguro afirmar que Jurassic Park é uma obra-prima do entretenimento – quanto às sequelas, as opiniões divergem – e Jurassic World foi um bom reboot da franchise. Acontece que nem eu, um apaixonado eterno por dinossauros, conseguiu achar muita a piada a Fallen Kingdom, o anterior capítulo da saga que nos apresentava dinossauros a perseguir pessoas dentro de uma mansão ou os mesmos a serem leiloados durante intermináveis cenas. Dominion acerta numa coisa: embora também vejamos dinossauros a perseguir humanos numa cidade – a cena de perseguição em Malta pode dividir o povo, mas eu pessoalmente acho-a maioritariamente bem concebida – grande parte da ação centra-se em algo muito mais próximo de onde eu gosto de ver estes seres, o que melhora bastante o filme a partir desse momento. Mas vamos por partes.

A nostalgia. Muito na moda estão as requelas – como a personagem de Mindy as apelidou no mais recente Scream. Dois mundos se juntam, o novo e o antigo e este Dominion faz isso. Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum reencontram-se pela primeira vez (todos eles já tinham marcado presença em filmes posteriores a JP, mas nunca todos em simultâneo) e fazem-nos relembrar outros tempos. O curioso é que se isso é maioritariamente bom, pois sentimos que é aqui que eles pertencem, por vezes obriga-nos a fazer também comparações e aí já ficamos com aquela sensação de que já os vimos em algo melhor…de qualquer forma, não é por eles que este filme desaponta. Todos eles têm direito aos seus momentos e a cenas que relembram acontecimentos passados, embora seja fácil de afirmar que Goldblum como Ian Malcolm é o que mais brilha. Não é também pelos atores mais novos que isto tem problemas. Chris Pratt e Bryce Dallas Howard voltam a provar que levaram grande parte desta trilogia às costas e têm algumas das melhores cenas deste filme. Há novas adições, como DeWanda Wise – provavelmente, a melhor personagem deste filme?! – e Mamoudou Athie que também estão bastante bem, bem como a jovem Isabella Sormon, hoje um pouco mais madura do que no filme anterior. Mas se não é pelos atores…

Gafanhotos?! O que é isto? Sim, a história principal deste capítulo não se centra nos dinossauros. Eles estão lá – e, na verdade, todas as melhores cenas são com os mesmos – mas não é à volta deles que gira o enredo principal. O enredo gira à volta de um riquinho que utiliza os avanços tecnológicos da sua companhia para utilizar gigantes gafanhotos modificados como arma para a destruição de colheitas em todo o mundo tornando tudo e todos dependentes de si e da sua companhia. Isto é mau, patético, não é Jurassic Park/World. Poderia ser outra coisa qualquer, mas não aqui.

Esqueçam o que vos disse, ok? Se pensarem muito nisso nunca retirarão qualquer prazer deste filme. E até vos digo que será difícil retirarem algo da sua primeira longa e desgastante hora. O filme vai mudando de cenário, de cenas, de personagens de uma forma desgastante, não acertando nunca no tom e no ritmo que quer imprimir. Tudo deveria ter tido metade do tempo até aqui e já seria muito. Chegamos a Malta. O filme melhora. Sim, temos uma parva batalha inicial de espiões que queremos esquecer – da mesma forma que o filme esqueceu alguns dos seus intervenientes – mas finalmente temos cenas entusiasmantes, cenários gigantescos e personagens a fazer algo que nos interesse. Depois de uma perseguição ao estilo Fast & Furious com dinossauros (que acaba de modo excitante, o que é algo que o filme nunca tinha sido até então), segue-se uma atribulada viagem e acidente aéreo, com a introdução – antes já a tínhamos visto, mas nada sabíamos – da melhor personagem deste filme.

O avião despenha-se e isto já parece um pouco mais a saga Jurassic. Temos uma excecional cena de Claire no pântano perseguida por um dinossauro (uma das melhores da saga na verdade!) onde a camuflagem vale ouro. Temos Owen e Kayla numa grande cena onde não podem pisar no sítio errado perseguidos por um gigante predador. Temos Claire a quase ser devorada e a ser salva in extremis e, em simultâneo, finalmente, algumas entusiasmantes cenas com o nosso elenco antigo mais conhecido, que até então parecia estar ali apenas para receber o cheque.

Acredito que quem chegue àquele momento – a viagem de avião – se divirta e vibre com grandes cenas e efeitos especiais espetaculares. Acredito que quem se lembre dos “velhinhos” se emocione. Há aqui um absurdo enredo – a trama principal é sobre…gafanhotos – e um entediante 1º acto para contrapor, mas o facto de adorar dinossauros como uma criança de 3 anos faz com que dê mais valor aos pontos positivos, tendo-me entretido o suficiente.

Jurassic World: Dominion
Mundo Jurássico: Domínio

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 146 minutos

REALIZAÇÃO: Colin Trevorrow

ELENCO: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Sam Neill, Laura Dern, Jeff Goldblum, DeWanda Wise; Mamoudou Athie; Isabella Sermon

+INFO: IMDb

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