Kate é a nova aposta de ação da Netflix, que procura trazer uma nova heroína para as nossas salas, com olho numa nova saga. Não se pode dizer que a aposta tenha falhado, uma vez que o filme está em primeiro lugar dos mais vistos da gigante do streaming pelo mundo fora. Mas será que, em termos de qualidade, está à altura do que poderíamos esperar? Sim e não, mas já lá vamos.
Na história, Kate é uma assassina contratada que se vê do outro lado do perigoso jogo: tendo sido envenenada, tem agora apenas 24 horas de vida para descobrir quem o fez, porque o fez e conseguir a sua vingança. O filme, como esperado, segue uma estrutura natural de “herói/heroína que bate em todos”, não trazendo nada de muito novo para a mesa. O principal, para muitos, numa história do género é a ação e esse é mesmo um dos pontos fortes de Kate. Embora seja pouco credível que alguém – por mais bem treinado que esteja – seja capaz de eliminar dezenas de alvos dos quais também se espera que estejam bem treinados, a verdade é que Mary Elizabeth Winstead é credível no papel de badass, com uma rapidez e movimentação realista, apoiada num excelente trabalho de coreografia.
A ação é, na maioria das vezes, mostrada de uma forma crua e bastante violenta, sem filtros, o que empolga em vários momentos. Cedric Nicolas-Troyan realiza e não se quis poupar minimamente no sangue que coloca no ecrã, o que pode ser demasiado para alguns, mas que resulta na perfeição para quem gosta do líquido vermelho em todo o seu esplendor no nosso ecrã. Kate nunca se parece sentir desconfortável no papel que desempenha e as suas expressões faciais ajudam também a transmitir bastante credibilidade à personagem durante as cenas em que vários adversários vão caindo que nem um baralho de cartas. A juntar a esta, também a jovem Miku Martineau tem uma prestação muito positiva, conseguindo demonstrar os seus diferentes sentimentos face ao decorrer dos acontecimentos e tem consigo aquela estrelinha que permite antever um futuro risonho na representação. Outro aspeto positivo do filme é a ambientação no Japão, com várias referências à sua cultura, não se limitando o país a ser “o espaço onde a ação decorre”, tendo mesmo vida própria e sendo fundamental para várias cenas.
Ainda assim, tudo o que resulta deixa-me apenas ficar ainda mais desapontado em perceber que havia potencial para muito mais. Por muito que seja um filme de ação, a história continua a ser um ponto fulcral de qualquer filme e Kate falha nesse aspeto. A história apresentada é do mais genérico que se pode pedir, tendo já visto este filme dezenas de vezes. Está lá mais como meio para servir a ação e não o contrário. A previsibilidade também retirou muito da minha satisfação, uma vez que desde os primeiros momentos consegui adivinhar qual seria o fraco plot twist e como isto tudo iria, mais ou menos, terminar. Woody Harrelson é também um elemento menos aqui – e digo-o como um fã do seu trabalho e do que consegue normalmente adicionar – parecendo não ter muita vontade de fazer mais do que o básico que dele é esperado. Assim todos os elementos que resultam fazem-me até querer uma sequela que pode trabalhar melhor estes elementos que não resultaram, ficando com pena que aqui, em determinados momentos, só tivesse vontade que o filme avançasse para as “cenas de porrada”, porque havia muito pouco na história com poder de cativar.
Em suma? O que resulta? As cenas de ação, o sangue, as vibes japonesas e as duas atrizes principais. No entanto, infelizmente, a história é pouco convincente, demasiado batida e muuuito previsível. Acaba por se tornar em apenas mais um filme da “heroína que bate em todos”, quando tinha potencial para muito mais.