The Last Voyage of the Demeter poderia e deveria ter sido tão mais…

Gosto muito de filmes em tempos antigos. Adoro filmes no mar. Adoro terrores atmosféricos. Gosto muito deste elenco e até gostei muito dos filmes anteriores deste realizador. Não tinha como The Last Voyage of the Demeter dar errado comigo. Mas deu. 

Comecemos pelo tal de Drácula. Excelente design de criatura. Capaz de boas, marcantes e imaginativas mortes. Aterrador. O primeiro problema, no entanto, é que talvez apareça pouco. Ou talvez apareça o suficiente, só que deveria sentir-se a sua presença mais vezes mesmo quando não está em cena. O que acontece é que o filme usa e abusa do diálogo longo, pastelão, pesado, querendo dar uma dimensão filosófica à existência da criatura, alimentando paralelismos com temas sempre atuais relacionados com a nossa sociedade.

Isso até poderia ter resultado. Afinal, filmes que são maioritariamente composto por diálogo costumam também me agradar. No entanto, este filme parece apenas tocar duas notas. Ou nos atira com diálogo longo, expositivo, desesperançoso e fatalista. Ou nos mostra o monstro a atacar todas as noites, seguindo mais ou menos o mesmo padrão. E no dia a seguir tudo se repete. Repete-se de tal forma que mesmo quando é feita uma descoberta importante que deveria ter feito mudar a sua estratégia, os navegantes optam por uma estratégia que se esquece do que eles acabaram de ter conhecimento. E voltamos ao mesmo. 

Há coragem neste filme. Isso é um ponto claramente positivo. Há mortes que chocam. Não só pela forma, mas também pelos escolhidos, com opções pouco usuais no cinema do género, levando até a algumas interessantes reflexões (se elas ao menos fossem mais reduzidas e não acerca de tudo…). Tem também bons atores com quem queremos permanecer, pois eles dão a isto a credibilidade que a história merece. É, no entanto, um filme demasiado aborrecido para um filme com o Conde Drácula. Um filme com uma estrutura fraca. Um filme que procura um ambiente slow burn atmosférico, mas que torna tudo simplesmente entediante, pois parece que cada noite é exatamente igual à anterior. Respeito André Øvredal e gosto da sua obra anterior, mas não pude deixar de fazer comparações entre o clima aqui criado e o pretendido que seria, certamente, mais próximo do da primeira temporada da série The Terror, que utiliza o mesmo tipo de ambiente para nos dar algo claustrofóbico que leva a tripulação a duvidar de tudo, incluindo sua sanidade. 

De uma forma geral, considero que este filme é uma oportunidade perdida. Não é todos os anos que conseguimos ter um filme de terror de estúdio com Drácula, com este elenco e com um competente realizador. De certa forma, até fico a torcer que outras pessoas gostem dele porque gostava de ver esta criatura num novo cenário e talvez com uma diferente equipa criativa. Não sinto que tudo aqui deva ser para deitar fora, mas, no cômputo geral não saí satisfeito, continuei sedento de mais.

Tem algumas cenas marcantes, um belo design de criatura, boas mortes e um forte elenco que tenta de tudo para levar isto a bom porto. Até demonstra coragem criativa em algumas escolhas. É, no entanto, um filme bastante repetitivo, com carências narrativas evidentes e, acima de tudo, demasiado aborrecido para um filme com o Drácula.


The Last Voyage of the Demeter
DRÁCULA: O DESPERTAR DO MAL

ANO: 2023

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 118 minutos

REALIZAÇÃO: André Øvredal

ELENCO: Corey Hawkins; Aisling Franciosi; Liam Cunningham; David Dastmalchian; Woody Norman

+INFO: IMDb

The Last Voyage of the Demeter

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