Luckiest Girl Alive idealiza o que deveria criticar, e traz antipatia onde deveria haver empatia

Luckiest Girl Alive (A Rapariga Mais Sortuda do Mundo) queria muito que eu me importasse com sua protagonista e enredo. Pois, infelizmente, isso não aconteceu. Há no filme o potencial para gerar grande impacto, mas, na maior parte do tempo, não é possível se envolver o suficiente com os conflitos apresentados em tela.

Em Luckiest Girl Alive, seguimos Ani Fanelli (Mila Kunis), uma escritora que vive entre o estresse de lidar com uma vida de aparências, e a sombra dos traumas que viveu no passado. A farsa sustentada por Ani tem potencial para criar uma relação do público com o filme, pois todos aprendemos desde cedo que o mundo em que vivemos é regido pelas aparências, e é com base nisso que construímos nosso caráter. Quanto aos traumas da protagonista, o filme tem a oportunidade de impactar com aflição, empatia e, principalmente, devido à gravidade dos abusos sofridos por Ani, revolta. Parece inevitável que Luckiest Girl Alive te envolva e te carregue com angústia pela sua trama, mas, infelizmente, quase nada do que o filme se propõe a fazer, funciona.

Ani é antipática, irônica e cínica. É difícil criar empatia com uma protagonista que passa mais da metade do filme reclamando, sendo rude e tratando os outros de forma estúpida. O temperamento tóxico e pessimista de Ani é compreensível, uma vez que conhecemos, chegando à metade do segundo ato do filme, os fatos violentos que serviram de catalisadores para sua depressão. Porém, até chegar a essa etapa do longa, a personagem já nos encheu tanto com sua antipatia, que já não há mais espaço suficiente para que ela nos conquiste.

Ani narra o filme com a voz de quem detesta a vida que escolheu viver. Vida essa que escolheu não por desejo, mas sim, por conceber como a única forma de se viver dignamente. Ani ora parece criticar e menosprezar seu próprio comportamento e estilo de vida, ora parece romantizar os mesmos. Não há unidade no discurso da protagonista, e isso se torna ainda mais problemático quando se leva em consideração a realização do filme. Luckiest Girl Alive parece glamourizar constantemente a superficialidade da vida burguesa, como se justificasse o teatro emocional de Ani como um mal necessário para se alcançar a dignidade da classe fina. Enquadramentos abaixo do nível das personagens demonstram sua suposta superioridade, enquanto andam em velocidade reduzida, para demonstrar sua intensidade e importância. Luckiest Girl Alive quer fazer duras críticas ao que Ani precisa passar para se provar digna de respeito para a sociedade, mas acaba por fazer o inverso, pois não percebe que idealiza e admira tais comportamentos repulsivos.

Assim, com uma trama que não sabe bem o que quer dizer e que demonstra sua intensidade muito tardiamente, Luckiest Girl Alive deixa muito a desejar. É com atraso também que o filme encontra um discurso para chamar de seu, e finaliza sua história com uma repetição exaustiva de uma mesma mensagem. Entendemos o que a obra decidiu dizer através da ação em cena, porém, não satisfeito com isso, o filme decide verbalizar tudo através de discussões, e faz isso de novo, até repetir o discurso em uma “emocionante” cena de clímax, que apresenta o impacto das decisões tomadas por Ani nas pessoas afetadas por isso. Luckiest Girl Alive passa tanto tempo incerto do que transmitir, que quando encontra algo, extrapola os limites do bom senso. O resultado final é desagradável, e poderia até considerar revoltante, mas simplesmente não me importo o suficiente para tal.


Luckiest Girl Alive
A Rapariga Mais Sortuda do Mundo

ANO: 2022

PAÍS: EUA

DURAÇÃO: 1h 53min

REALIZAÇÃO: Mike Barker

ELENCO: Mila Kunis, Chiara Aurelia, Finn Wittrock

+INFO: IMDb

Luckiest Girl Alive

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