Sabe quando um filme promete nos impactar com uma excelente qualidade técnica, um elenco inspirado e uma trama muito promissora, e que, por algum motivo, acaba não atingindo seu verdadeiro potencial e resulta em uma obra bacana, porém facilmente esquecível? Pois é, infelizmente, Lunana: A Yak in the Classroom (A Felicidade das Pequenas Coisas) se encaixa nesse perfil.
A princípio, o saldo é positivo. Desde suas primeiras cenas, Lunana mostra uma de suas maiores qualidades: a fotografia. Jigme Tenzing (diretor de fotografia) nos entrega quadros belíssimos, principalmente quando o assunto é capturar as belas e gélidas terras das altitudes do Butão. Os planos gerais fazem jus à magnitude da locação escolhida, originando cenas não necessariamente contemplativas, como de costume em obras de proposta semelhante, mas que transmitem de maneira exemplar a energia, o poder e a maravilha da natureza.
Lunana diz a que veio, nos convida para sua jornada e, quando devia nos cativar e prender de vez nossa atenção, acaba por nos afastar.
O filme nos conta a história de Ugyen Dorji (Sherab Dorji), um professor que sonha em tentar a carreira de cantor no exterior. Contra sua vontade, Ugyen é designado a lecionar em um pequeno vilarejo afastado da sociedade.
Sim, a nada original, porém sempre bem vinda história do estranho desmotivado que acaba se encontrando e criando laços com uma nova comunidade e passa a fazer grande diferença na realidade das pessoas com quem interage. O problema de Lunana é que a realização não sabe bem quando passar do desinteresse do protagonista para o momento de conexão com o vilarejo. O que temos aqui é uma longa narrativa de resmungões e caras feias que, quando decide evoluir sua trama e passa a nos cativar com a beleza do compartilhamento de diferentes visões de mundo, opta por encerrar sua história de forma rápida demais para evitar o desapontamento. Não é exatamente frustrante, mas deixa um gostinho de que poderia ter entregue mais.
Porém, para não finalizar essa resenha apenas com impressões negativas, gostaria de ressaltar o trabalho dos dois nomes que mais brilham no elenco: Ugyen Norbu Lhendup, que interpreta o gentil e acolhedor Michen, e a fofíssima não-atriz, Pem Zam, que vive… bem, ela mesma. Ambos compartilham de qualidades semelhantes em suas representações, mas o que mais impacta e certamente mantém a atenção durante todo o longa são os seus olhares cheios de carinho, respeito e vontade de viver! A entrega dos dois aos seus papéis é notável e ambos são, com certeza, o coração do filme.
Filme esse que tem, sim, muito coração e traz consigo um potencial enorme de causar grande impacto, mas que, infelizmente, acaba desperdiçando isso. É muito fofo, tem bom elenco e ótima qualidade técnica, mas, mesmo assim, não escapa de ser apenas mais um filme legal de fácil esquecimento.