Joel Edgerton vive o jardineiro Narvel Roth. Narvel trabalha cuidando do jardim de uma grande propriedade da burguesa Norma Haverhill, vivida por Sigourney Weaver. Um contém a si mesmo, tentando diariamente tomar as rédeas de quem é, e demonstra ser aos demais. A outra usa de sua influência e poder (dinheiro) para ter tudo e todos ao seu controle, moldando o que pode em nome de seu desejo e ambição. A jovem Maya, sobrinha neta de Norma, vivida por Quintessa Swindell, é adicionada à equação como aprendiz de Narvel. Maya não faz questão de se conter e tão pouco esconde quem é. Também não se deixa influenciar ou alienar por quem a quer ver na linha. Sua presença sacode dinâmicas aparentemente bem estabelecidas de poder, controle e convivência.
Joel Edgerton, para mim, tem e sempre terá cara de bom moço. Do tipo de homem que aparenta força e rigidez, mas que transmite confiança à primeira vista. O ator é a escalação perfeita para encarnar Narvel Roth. O meticuloso jardineiro é uma pessoa intensa, resguardada, sutil e gentil. Com a mesma perfeição e atenção aos detalhes que presta aos jardins de Norma, Narvel calcula minuciosamente cada abordagem usada em suas interações sociais. E assim o faz pois sua aura inofensiva e focada serve não como máscara, mas como um escudo que protege os outros e a si mesmo de segredos terríveis que carrega consigo da forma mais simbolicamente literal o possível, se é que o que acabei de dizer para evitar spoilers faz algum sentido.
Narvel parece sempre ter muito controle sobre todas as esferas de sua vida (atenção ao uso da palavra “parece”, sempre). Tem a resposta certa para tudo a todo tempo. Ou pelo menos para melhor lidar com as situações em que se vê inserido. É perceptível que suas intenções são exclusivamente altruístas. Apaziguadoras, talvez. Quando com Norma, entretanto, Narvel se permite mais espontaneidade. Todavia, é com a mesma que vive uma dinâmica quase servil e inquestionável. A situação pode parecer absurda e contraditória, mas ao explorarmos mais a fundo as verdades e intimidades compartilhadas entre os dois, tudo faz sentido. E perturba e constrange.
E então Maya chega e a tudo muda. Norma sofre alguns abalos, sim, pois a relação com sua sobrinha neta não é das mais simples. Mas é com Narvel que vemos os maiores impactos acontecerem. A garota traz instabilidade e insegurança para o tão controlado ambiente regido pela rainha Norma e seu fiel comandante marionete Narvel. Instabilidade essa que pode ser caótica, preocupante ou… libertadora. Mas, com certeza, transformadora.
É intrigante acompanhar o ritmo constante e compassado, sem pressa, com que o filme, assim como o seu protagonista, lida com tudo. Aí penso no seu título: Master Gardener. Mestre Jardineiro. Filme e personagem não podem ser vistos de forma separada, pois são um só. Não fossem os ditos temíveis traficantes surgirem como adolescentes playboys que não impõe respeito nem a moleques na puberdade, diria ser perfeito. Brincadeiras não tão brincantes à parte, Master Gardener é um belíssimo filme.